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Caso dos sargentos divide comunidade gay
Advogado que acompanhou o caso dos sargentos diz que "eles estão pagando um preço alto pela grandeza de seu ato"
Toni Reis, que já passou por situação semelhante, diz que é comum ser mal-falado por aqueles que não conseguem destaque
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Foi um momento de insanidade", diz o jornalista Erik Galdino, 24, sobre a atitude dos
sargentos do Exército que na
semana passada assumiram em
uma revista e na TV sua homossexualidade. Fundador de
um blog gay aos 18 anos, Erik,
hoje com 24, é considerado um
dos precursores do debate entre adolescentes sobre o tema.
"Eles [os sargentos] procuraram a revista [Época] para "chamar mídia". Não sei o motivo,
talvez retaliação por algo que fizeram com eles no Exército.
Como é que ninguém sabia que
eles eram gays? Não cabe. Um
fazia cover da Cássia Eller!", admira-se o blogueiro.
A militância homossexual
enquadra Erik em um caso de
"homofobia internalizada"
(aversão entre gays, que pode
levar a uma constante desconfiança sobre as intenções dos
próprios pares).
Erik diz que há um "exagero"
nas avaliações. "Para os militantes, tudo é homofobia. Boa
parte não consegue rir quando
se fala dos gays com humor na
mídia", afirma o blogueiro.
Divergência
Em vez de agregar, o gesto
dos sargentos Fernando de Alcântara Figueiredo e Laci Marinho de Araújo [que está preso,
em Brasília] parece ter despertado uma uma divergência entre gays. Muitos condenam a
atitude dos sargentos .
O empresário Sérgio di Pietro, dono da revista eletrônica
"A Capa", de freqüência gay, diz
que recebeu "mensagens de
pessoas que acham que o erro
não é a discriminação, mas a
exposição dos sargentos."
O colunista da seção GLS da
Revista da Folha, Vitor Angelo,
conta que ouviu comentários
como: "O que aquelas duas estão fazendo no Exército?"
"É muito comum essa reação
dentro da comunidade, até por
uma questão de vaidade. Quem
não consegue destaque, fala
mal", diz o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, Toni Reis, que está em Brasília para acompanhar a 1ª conferência gay do
Brasil. Reis conta que freqüentou a mídia na época em que
seu parceiro inglês, David Harrad, com quem mantém uma
relação estável, foi preso pela
Polícia Federal por não possuir
o visto brasileiro permanente.
"Aparecemos em todas as revistas, no Jô, e acabamos mudando a lei nesse país! Mas eu
entrava na sauna e ouvia: "Muda de emprego, bicha, vai morar na Inglaterra! É mais fácil."
O advogado Francisco Lúcio
França, do Conselho Estadual
de Direitos da Pessoa Humana,
que acompanhou o caso dos
sargentos, garante que "eles estão pagando um preço alto pela
grandeza de seu ato político".
Para o escritor João Silvério
Trevisan, um dos fundadores
do movimento gay no Brasil, a
reação homofóbica se deve à
"vivência bissexual mal resolvida do brasileiro". "As pessoas
tendem a fazer tudo por debaixo dos panos. Esses caras estão
muito sozinhos, pode crer".
Silvério também põe a culpa
no "baixo nível político da comunidade [gay] no Brasil". "O
que nós temos em termos de
movimento político é uma continuação do PT, uma esquerdinha vagabunda. Onde já se viu
uma conferência gay ser convocada pelo presidente da República? A luta tinha de ir da
sociedade para o governo, e não
o contrário."
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