São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Caso dos sargentos divide comunidade gay

Advogado que acompanhou o caso dos sargentos diz que "eles estão pagando um preço alto pela grandeza de seu ato"

Toni Reis, que já passou por situação semelhante, diz que é comum ser mal-falado por aqueles que não conseguem destaque

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Foi um momento de insanidade", diz o jornalista Erik Galdino, 24, sobre a atitude dos sargentos do Exército que na semana passada assumiram em uma revista e na TV sua homossexualidade. Fundador de um blog gay aos 18 anos, Erik, hoje com 24, é considerado um dos precursores do debate entre adolescentes sobre o tema.
"Eles [os sargentos] procuraram a revista [Época] para "chamar mídia". Não sei o motivo, talvez retaliação por algo que fizeram com eles no Exército. Como é que ninguém sabia que eles eram gays? Não cabe. Um fazia cover da Cássia Eller!", admira-se o blogueiro.
A militância homossexual enquadra Erik em um caso de "homofobia internalizada" (aversão entre gays, que pode levar a uma constante desconfiança sobre as intenções dos próprios pares).
Erik diz que há um "exagero" nas avaliações. "Para os militantes, tudo é homofobia. Boa parte não consegue rir quando se fala dos gays com humor na mídia", afirma o blogueiro.

Divergência
Em vez de agregar, o gesto dos sargentos Fernando de Alcântara Figueiredo e Laci Marinho de Araújo [que está preso, em Brasília] parece ter despertado uma uma divergência entre gays. Muitos condenam a atitude dos sargentos .
O empresário Sérgio di Pietro, dono da revista eletrônica "A Capa", de freqüência gay, diz que recebeu "mensagens de pessoas que acham que o erro não é a discriminação, mas a exposição dos sargentos."
O colunista da seção GLS da Revista da Folha, Vitor Angelo, conta que ouviu comentários como: "O que aquelas duas estão fazendo no Exército?"
"É muito comum essa reação dentro da comunidade, até por uma questão de vaidade. Quem não consegue destaque, fala mal", diz o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Toni Reis, que está em Brasília para acompanhar a 1ª conferência gay do Brasil. Reis conta que freqüentou a mídia na época em que seu parceiro inglês, David Harrad, com quem mantém uma relação estável, foi preso pela Polícia Federal por não possuir o visto brasileiro permanente.
"Aparecemos em todas as revistas, no Jô, e acabamos mudando a lei nesse país! Mas eu entrava na sauna e ouvia: "Muda de emprego, bicha, vai morar na Inglaterra! É mais fácil."
O advogado Francisco Lúcio França, do Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana, que acompanhou o caso dos sargentos, garante que "eles estão pagando um preço alto pela grandeza de seu ato político".
Para o escritor João Silvério Trevisan, um dos fundadores do movimento gay no Brasil, a reação homofóbica se deve à "vivência bissexual mal resolvida do brasileiro". "As pessoas tendem a fazer tudo por debaixo dos panos. Esses caras estão muito sozinhos, pode crer".
Silvério também põe a culpa no "baixo nível político da comunidade [gay] no Brasil". "O que nós temos em termos de movimento político é uma continuação do PT, uma esquerdinha vagabunda. Onde já se viu uma conferência gay ser convocada pelo presidente da República? A luta tinha de ir da sociedade para o governo, e não o contrário."


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