São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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JOSÉ DA SILVA (1924-2008)

Para as causas do futebol, viva o rábula

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Jota da Silva era homem convicto de seu pragmatismo. Conseguia o que queria de um jeito ou de outro e sem diploma e sem receio, defendeu por décadas os times de futebol do Nordeste. Advogado forjado em litígios, não em cadeiras escolares, vivia do "Jus Postulandi", da autorização provisória da OAB e da fama que tinha de "rábula mais querido de Sergipe".
Todo dia 13 de junho se ouviam em casa os fogos de artifício da promessa religiosamente cumprida. "Enquanto fosse vivo, faria uma festa a Santo Antônio", com canjica e gente dançando, para agradecer a graça alcançada, o concurso para almoxarife do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários.
Até se aposentar, lá chegou a coordenador jurídico -ele que era filho de marchante de carne; que só fizera a oitava série; que não tinha formação em direito, mas que leu o Código Brasileiro Disciplinar do Futebol, a Consolidação das Leis do Trabalho, algum livro de referência e se pôs a defender o Sergipe nos anos 60. Depois vieram dezenas de outros times.
Entrava nos tribunais com os códigos desportivos, os cabelos ainda por embranquecer, a camisa de linho recendendo a perfume e sua paciência de Jó. "O tempo só é ruim para quem não sabe esperar", era seu lema até 1992, ano dos últimos casos.
Ao morrer na segunda, aos 84, de falência múltipla dos órgãos, deixou à mulher, seis filhos, 11 netos e dois bisnetos a solução do litígio final: quem ficará com os mais de 40 discos de Roberto Carlos.

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