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JOSÉ DA SILVA (1924-2008)
Para as causas do futebol, viva o rábula
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Jota da Silva era homem
convicto de seu pragmatismo. Conseguia o que queria
de um jeito ou de outro e sem
diploma e sem receio, defendeu por décadas os times de
futebol do Nordeste. Advogado forjado em litígios, não
em cadeiras escolares, vivia
do "Jus Postulandi", da autorização provisória da OAB e
da fama que tinha de "rábula
mais querido de Sergipe".
Todo dia 13 de junho se ouviam em casa os fogos de artifício da promessa religiosamente cumprida. "Enquanto
fosse vivo, faria uma festa a
Santo Antônio", com canjica
e gente dançando, para agradecer a graça alcançada, o
concurso para almoxarife do
Instituto de Aposentadorias
e Pensões dos Comerciários.
Até se aposentar, lá chegou
a coordenador jurídico -ele
que era filho de marchante
de carne; que só fizera a oitava série; que não tinha formação em direito, mas que
leu o Código Brasileiro Disciplinar do Futebol, a Consolidação das Leis do Trabalho,
algum livro de referência e se
pôs a defender o Sergipe nos
anos 60. Depois vieram dezenas de outros times.
Entrava nos tribunais com
os códigos desportivos, os cabelos ainda por embranquecer, a camisa de linho recendendo a perfume e sua paciência de Jó. "O tempo só é
ruim para quem não sabe esperar", era seu lema até 1992,
ano dos últimos casos.
Ao morrer na segunda, aos
84, de falência múltipla dos
órgãos, deixou à mulher, seis
filhos, 11 netos e dois bisnetos a solução do litígio final:
quem ficará com os mais de
40 discos de Roberto Carlos.
obituario@folhasp.com.br
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