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IPT aponta baixa qualidade na obra do metrô
Laudo sobre a cratera indica falhas de projeto, de execução, de monitoramento de riscos e falta de plano de emergência
Análise indica que a tragédia seria evitável caso tivessem sido feitos ajustes na obra quando surgiram os indícios de problemas
DA REPORTAGEM LOCAL
Na seqüência de erros em diversos estágios da obra apontados entre as causas da abertura
da cratera na linha 4-amarela
do metrô de São Paulo, técnicos
do IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas) responsáveis pela investigação do acidente
-que deixou sete mortos no dia
12 de janeiro do ano passado-
incluíram a baixa qualidade do
túnel na estação Pinheiros.
O relatório sobre a tragédia,
entregue anteontem pelo instituto, cita uma série de desconformidades da construção, ignoradas pela fiscalização do
Metrô e pelos registros oficiais
das empreiteiras, e que ajudaram a comprometer a qualidade de execução do túnel.
Entre elas, a falta de ensaios
no concreto (teste que ajuda a
assegurar a resistência do material), a ausência ou quantidade inferior à necessidade de fibras de aço e a presença de placas de concreto de apoio às
cambotas (arcos) de sustentação do túnel com dimensão menor do que o previsto.
Embora essa interpretação
não conste do resumo do laudo
do IPT divulgado por meio de
um vídeo, essas constatações
retomam questionamentos feitos logo após a tragédia sobre a
economia de material ou serviços feita pelas construtoras.
O contrato firmado pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB)
para construir a linha 4 seguiu
um modelo inédito para obras
do metrô, conhecido como
"turn key" -chave na mão, numa tradução livre, por fixar um
preço fechado e dar maior autonomia às empreiteiras.
O relatório do IPT, conforme
adiantou a Folha ontem, listou
11 fatores contribuintes para a
cratera, que vão da elaboração
do projeto ao descumprimento
dele pelas construtoras.
Embora as principais falhas
sejam atribuídas ao Consórcio
Via Amarela, formado por Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão,
Camargo Corrêa e Andrade
Gutierrez, a investigação responsabiliza ainda a fiscalização
deficiente do Metrô, além de
citar que a obra não tinha plano
de emergência adequado.
O laudo do IPT conclui em
sentido contrário ao do britânico Nick Barton, pago e divulgado pelo consórcio e que atribuía a cratera a uma "fatalidade" (uma "anomalia geológica"). O bloco de rocha com
mais de 15 mil toneladas citado
por Barton como determinante
para a tragédia -e que seria
desconhecido do mapeamento
geológico- não é nem citado
pelo resumo do instituto.
O geólogo Alvaro Rodrigues
dos Santos, ex-diretor do IPT,
avalia que as falhas ocorreram
por deficiência de gestão, pressa e redução de custos. "Entraram outras prioridades que
atropelaram os cuidados com a
boa técnica e a segurança."
Manoel Xavier Lemos Filho,
diretor do sindicato dos metroviários, afirmou que alguns dos
11 fatores apontados pelo IPT
inclusive já tinham sido denunciados pela entidade.
"Fizemos denúncia ao Ministério Público em maio de
2006 sobre as negligências da
obra. Já sabíamos do uso de
material inadequado", disse.
O Metrô e a assessoria do ex-governador Geraldo Alckmin
não comentaram ontem os resultados do laudo do IPT.
(ALENCAR IZIDORO, RICARDO SANGIOVANNI, CINTHIA RODRIGUES e TALITA BEDINELLI)
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