São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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TRÂNSITO

Apenas 5% utilizam cinto no banco traseiro; multas cresceram 270% em comparação à média de 1999 e 2000

Cai adesão a cinto de segurança em SP

André Sarmento/Folha Imagem
Passageira e motorista sem cinto de segurança na avenida Dr. Arnaldo


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A utilização do cinto de segurança por motoristas e passageiros atingiu os índices mais baixos de adesão desde a implantação do Código de Trânsito Brasileiro, em janeiro de 1998, segundo pesquisas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em São Paulo.
O não-cumprimento da lei por ocupantes do banco traseiro causa especial preocupação. Apenas 5% deles usaram o cinto em janeiro de 2002 -índice igual ao de 2000, mas inferior aos 7% de 2001. No terceiro mês de vigência do CTB, 29% obedeceram à legislação. Em 1999, foram 11%.
O relaxamento também é evidente em relação aos demais ocupantes dos veículos. A adesão dos passageiros da frente, que era de 93% em março de 1998, caiu para 83% nas duas últimas pesquisas anuais. A dos motoristas, que já foi de 98%, despencou para 88% em 2001 e chega a 90% em 2002.
Os resultados, baseados em uma amostra de mais de 13 mil veículos -com margem de erro de 0,5 ponto percentual-, motivaram a CET a incluir esse assunto em uma campanha educativa prevista para este semestre.
"No lançamento do código, houve um "boom" de divulgação, todo mundo estava atento. É hora de dar uma nova sacudida no motorista", afirma Mauricio Régio, responsável pela assessoria de segurança no trânsito da CET.
A quantidade de multas pela falta do cinto aplicadas em 2001 por fiscais de trânsito municipais, os marronzinhos, chegou perto de 94 mil, alta de quase 270% em relação à média dos três anos anteriores. Supera as 93 mil multas do primeiro ano de obrigatoriedade de uso do cinto, fixada na capital paulista por lei municipal, no final de 1994, antes de a restrição ser estendida ao país inteiro.

Mais marronzinhos
A tendência de alta prossegue neste ano, graças ao aumento de efetivo de fiscais. Eram 900 marronzinhos até o final de 2001 e agora são 1500.
Segundo Régio, a maioria das multas foi registrada nas áreas que mais desrespeitam o CTB. "As multas aumentaram porque a obediência está caindo", diz ele, que também atribui a elevação à melhor distribuição dos marronzinhos na capital paulista.
O engenheiro da CET admite, porém, que a fiscalização contra os ocupantes do banco traseiro ainda é praticamente nula -apesar de eles terem os menores índices de adesão ao cinto.
"Há uma imensa dificuldade para fiscalizar. A maioria dos cintos é abdominal e a gente não quer que os marronzinhos sejam invasivos, que fiquem colados no vidro", afirma Régio. Ele não sabe dizer se ao menos uma das 94 mil multas de 2001 foi aplicada pela falta do cinto traseiro.
"Acredito que, se algumas multas dessas tiverem sido aplicadas, elas representarão um número desprezível estatisticamente."
O discurso da CET é criticado por especialistas. "Não dá para tomar essa dificuldade como um sinônimo de impossibilidade. O fiscal que está na calçada tem como ver se os passageiros de um carro parado no semáforo estão usando os cintos de segurança. A lei tem de ser cumprida", diz Alberto Francisco Sabbag, secretário-geral da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).
O CTB diz que a utilização do cinto de segurança é obrigatória "para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional". A infração é considerada grave, com multa de R$ 127,69 e perda de cinco pontos na carteira.
A pressão dos especialistas para que todos os ocupantes do veículo cumpram a lei é reforçada por estudos que apontam os riscos de morte e lesões graves nos acidentes cujos passageiros do banco traseiro não usavam os cintos.
Um deles foi divulgado no Japão no começo do ano. Pesquisadores da Universidade de Tóquio concluíram que 80% das mortes dos ocupantes do banco dianteiro com cinto de segurança poderiam ter sido evitadas se os cintos traseiros tivessem sido utilizados.
A baixa adesão dos passageiros ao cinto de segurança do banco traseiro não é um fenômeno exclusivo da cidade de São Paulo.
Uma pesquisa da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), divulgada em 2001 e coordenada pelos médicos José Sérgio Franco e Marcos Musafir, também identificou esse problema no Rio de Janeiro, onde só 2,1% dos passageiros adultos e 10,1% das crianças ocupantes do banco traseiro usavam os acessórios. Foram observados mais de 21 mil veículos, em diferentes regiões da capital fluminense.
Musafir afirma que os passageiros que foram abordados apontaram principalmente três motivos para estar sem cinto de segurança: 1) falta de hábito; 2) desconforto de se sentir preso ou dificuldade de retirar os acessórios debaixo do banco; 3) falta de fiscalização.


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