São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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SAÚDE

Troca de seringas realizada no país é citada em conferência mundial como estratégia de prevenção a ser seguida

ONU elogia programa brasileiro de Aids

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

O modelo brasileiro de "troca de seringas" foi citado ontem pelas Nações Unidas como uma das políticas a serem seguidas pelo países onde as drogas injetáveis vêm fazendo disparar o número de casos de Aids. Entre os locais onde essa forma de contágio está escapando do controle estão a China e países que formavam a União Soviética.
A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que em três anos haverá 10 milhões de chineses infectados, 80% pelo uso de drogas injetáveis. O modelo brasileiro foi citado por Moruf Adelekan, representante da UNDCP, o programa de drogas das Nações Unidas, no primeiro dia da 14ª Conferência Internacional de Aids, que acontece em Barcelona.
De projetos quase clandestinos sete anos atrás, quando técnicos e voluntários trabalhavam sob o risco de serem presos, o programa brasileiro de redução de danos tem hoje 140 bases no país.
A preocupação com o HIV entre usuários de drogas partiu da Unaids, órgão das Nações Unidas para a Aids, que reuniu os principais especialistas num encontro em Viena na semana passada. Na reunião, os programas brasileiros, inglês e o de Bangladesh foram listados como modelos.
"O modelo brasileiro foi escolhido porque inclui a participação de ONGs, do governo e porque seus resultados são animadores", disse Fábio Mesquita, coordenador do programa municipal de DST-Aids de São Paulo. Mesquita, que esteve à frente da primeira tentativa de troca de seringas, há 13 anos em Santos, representou o país em Viena. Levantamento feito nos anos de 1995 e de 2000 entre usuários de drogas injetáveis de Salvador mostrou que a porcentagem de infectados pelo HIV entre eles caiu de 51% para 7%. Em Santos, caiu de 60% para 42%.
Em Bangladesh, o maior programa comunitário do mundo de "redutores de danos" atinge 60% de todos os usuários de drogas. No Brasil, são apenas 10%.
A preocupação agora é com os países onde o ópio tinha um uso cultural fumado e passou a ser consumido como heroína injetável por conta da repressão. A Rússia, por exemplo, é o país onde a epidemia de Aids mais cresce no mundo. "Temos de evitar que aconteça a catástrofe que não evitamos na África negra", era o discurso dos representantes da Unaids.


O jornalista Aureliano Biancarelli viajou a convite do laboratório Abbott

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