São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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OUTRO LADO

Secretário diz que preso mente

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, atacou ontem a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pela divulgação da carta em que o preso recrutado pela PM diz ter conversado pessoalmente com ele, durante uma reunião em que teria sido planejada a ação que terminou na morte de 12 pessoas supostamente ligadas ao PCC, em março, em Sorocaba.
""Além de uma mentira deslavada, absurda, não entendi a que interesse serve. O que mais me indigna é o fato de algumas pessoas pegarem uma carta, que não sei endereçada a quem, chamar a imprensa e achincalhar", afirmou em entrevista no Denarc, onde anunciou sistema de monitoramento de carros.
O relato que irritou o secretário chegou à Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP por um dos dois presos que acusam policiais do Gradi de tortura.
Na carta, Ronny Clay Chaves, 27, conta como foi recrutado, que a unidade matou supostamente dois inimigos seus e diz que o secretário sabia que agentes infiltrados iriam convocar criminosos ligados ao PCC para roubar em Sorocaba um avião pagador que não existia.
""Eu lá vou conversar com preso acusado de latrocínio, que matou um pai de família para roubar carro, pegou a identidade dele para praticar estelionato. Eu não li a carta e pretendo não ler", disse, ao afirmar que a comissão da OAB deveria tê-lo ouvido antes de divulgar a carta.
Por sete vezes, a Folha perguntou ao secretário quando ele soube que a PM utilizava presos em investigações e quais medidas tomou. Abreu Filho se recusou a responder, disse que o jornal estava querendo ""personalizar" o problema e que não falaria de apuração em andamento. A assessoria dele tentou interromper a pergunta três vezes.
O presidente da OAB/SP, o advogado Carlos Miguel Aidar, disse ontem respeitar a opinião do secretário, mas discorda que ele precisasse ser avisado antes da divulgação da carta, enviada depois à Procuradoria Geral de Justiça. ""Os fatos são muito notórios. O interesse da OAB é que o caso seja apurado com mais rigor, mais velocidade."
O vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo (PT), militante de direitos humanos que participou da divulgação da carta, disse ontem que seria ""aético" entregá-la ao secretário, que vem defendendo as ações de inteligência realizadas pelo Gradi.



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