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Portadores de HIV são expulsos de favela
Filha de portadora foi agredida por bandidos no morro do Querosene, centro do Rio, e obrigada a se mudar com família
No caso ocorrido em 2005, as duas casas da família foram ocupadas por outros moradores da comunidade por ordem dos traficantes
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
A Prefeitura do Rio de Janeiro investiga denúncia de que ao
menos seis portadores do vírus
HIV foram obrigados por bandidos a abandonar suas casas
em comunidades controladas
pelo tráfico de drogas.
Joana (nome fictício), 22, filha de uma portadora do vírus
da Aids, foi agredida por "quatro ou cinco" bandidos do morro do Querosene, no Estácio
(região central do Rio) em
2005. "Nem imaginava que
corria esse risco", diz. Os bandidos distribuíram socos e chutes
e depois avisaram: a mãe dela
deveria se mudar.
"Eu havia descoberto a doença cerca de um ano antes e estava me tratando. Tinha emagrecido muito e perdido cabelos,
mas não havia contado para os
vizinhos sobre o vírus, mas notícia se espalhou e várias pessoas passaram a me olhar feio.
Eu já planejava me mudar, mas
isso apressou muito as coisas",
conta Maria (nome fictício), 45,
mãe de Joana, que se mudou
com a filha e os dois netos para
Santa Cruz (zona oeste).
"Fiquei muito assustada e
larguei tudo. Minha casa e a da
minha filha foram ocupadas
por outros moradores, por ordem dos bandidos, e nem pudemos levar as nossas coisas",
conta ela, que registrou o caso
na 6ª DP (Cidade Nova).
"Mas não fiz muita questão
de levar o caso adiante, porque
uma parte da minha família
continua morando lá".
Agora morando em Cabuçu,
bairro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Maria conta
que só voltou à comunidade de
onde foi expulsa uma vez. "Não
subi. Combinei que a pessoa
iria descer e, enquanto a esperava, um rapaz armado passou
me perguntando o que fazia ali
e chegou a atirar para cima. Depois disso, nem ao pé do morro
eu voltei", afirma.
Segundo ela, a maioria dos
agressores da filha morreram,
mas nem isso faz com que ela se
sinta segura para voltar a morar
no morro. As duas casas que foram ocupadas por moradores
por ordem dos bandidos não
eram legalmente registradas.
Um derrame paralisou o lado
direito do corpo de Maria, que
hoje sobrevive com o auxílio-doença do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).
Sua filha está desempregada. A
família recebe auxílio de entidades assistenciais.
"Conheço gente que mora
em morro, também tem o vírus
e morre de medo de que os bandidos descubram. Uma amiga
do São José, em Madureira,
tem até o cuidado de não jogar
no lixo do bairro os frascos de
remédio", diz Maria.
Para Fransérgio Goulart, historiador e integrante do Cedaps (Centro de Promoção da
Saúde), uma ONG que também
atende vítimas da Aids, o preconceito e as ameaças aos
doentes são comuns. "Já vi
muitas situações desse tipo. Os
bandidos sabem como a doença
é transmitida, mas acham que a
pessoa vai transar sempre sem
camisinha e espalhar a doença.
A única forma de combater esse preconceito é a informação."
A Secretaria Municipal de
Assistência Social apurando as
expulsões e por isso se nega a
comentar os casos.
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