São Paulo, segunda, 8 de setembro de 1997.



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NO AGRESTE DO PIAUÍ
Escolas esperam a revolução pela TV

do enviado especial

De tanto ver programas educativos, Maria Zildene Barbosa descobriu o que é revolução: "É aquilo que tira a gente do retrocesso".
Diretora da Escola Rural do DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) em Piripiri (PI), 160 km ao norte de Teresina, ela acha que a revolução está chegando ao vilarejo chamado Caldeirão pelas ondas do TV Escola. "Todos esses programas mostram revolução e o povo vai ficar frustrado se a revolução não chegar aqui."
Não há sangue na revolução que ela imagina -só conhecimento.
A Escola Rural do DNOCS, que oferece cursos da 1ª à 5ª séries a 209 alunos, é um exemplo extremo do impacto de programas educativos em rincões do Brasil profundo.
Ali, a coordenadora pedagógica Margarida Eleutério, salário mensal de R$ 50 atrasados há dois meses, ensinou os 11 professores a ajustar a parabólica e programar o vídeo -ao contrário de centenas de escolas de São Paulo e Rio.
O resultado em Piripiri é uma beleza, segundo Margarida: "Sempre que os alunos têm dificuldade para entender um assunto, eles me pedem uma fita e aí muda tudo".
O maior sucesso é um programa sobre frações equivalentes. Na lousa, ninguém entendia por que 2/4 e 1/2 são a mesma coisa. "Quando eles vêem as figuras na TV, parece que baixou um santo e explicou tudinho pra eles", conta a professora Rosileine da Silva Souza.
O aluno da 2ª série Fransilvânio Felício, 12, concorda: "Quando a professora fala, a gente não presta atenção, a meninada fica conversando. Com a TV fica todo mundo quieto e a figura ensina mais"
O vilarejo de Caldeirão, onde cem famílias sobrevivem de plantar melancias ao lado de um açude, também serve de exemplo para o uso equivocado do vídeo.
Na última quinta-feira, os alunos de 1ª e 2ª séries viam um vídeo sobre a independência. Ninguém entendeu nada. "Independência é o D. Pedro 1º. Não foi ele que descobriu o Brasil? É o que vi no vídeo", dizia Maria Luiza Damasceno, 12, aluna da 2ª série da escola. Nem daria para entender. O vídeo é para alunos a partir a partir da 6ª série.



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