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ADMINISTRAÇÃO
São 829 mil m2 cedidos a empresas e entidades privadas que não ofereceram benefícios à comunidade
CPI quer a retomada de 43 áreas públicas
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de São Paulo vai pedir a retomada de pelo menos 43 áreas públicas cedidas pelo município ou
invadidas por clubes esportivos,
bancos, shopping centers, postos
de gasolina, estacionamentos pagos e até por um motel.
Essas áreas somam aproximadamente 820 mil m2, equivalentes
a 114 campos de futebol. São terrenos que o poder público cedeu
gratuitamente a empresas e entidades privadas que não cumpriram a contrapartida do acordo
-geralmente benefícios para a
comunidade-, pagam aluguéis
irrisórios ou simplesmente invadiram os terrenos municipais.
"As empresas fazem isso na
maior cara-de-pau", afirmou o
presidente da CPI, Arselino Tatto
(PT). A comissão quer que a Prefeitura de São Paulo estipule um
prazo de, no máximo, 90 dias para
que essas instituições regularizem
a sua situação.
A cessão de terrenos (por meio
de lei municipal) e a permissão de
uso (por decreto do prefeito ou da
prefeita) foram práticas comuns
nas últimas décadas. Tornaram-se instrumentos eleitoreiros muito caros para os cofres públicos,
segundo Tatto.
De acordo com o presidente da
CPI das Áreas Públicas, a intermediação desses acordos sempre
foi feita pela Câmara Municipal.
"Uma entidade procurava um vereador, que pressionava o prefeito
e a área saía", disse.
A comissão não calculou o valor
de mercado desses terrenos, mas
a boa localização das áreas (veja
quadro na pág. C3) revela que o
município está perdendo uma
grande fonte de arrecadação.
Na lista das 43 áreas cujos usuários não ofereceram a contrapartida ao poder público, estão terrenos de 35 m2 -com permissão de
uso para o Itaú Planejamento e
Engenharia Ltda, no Jabaquara
(zona sul)- a 197.095 m2, cedido
para o Sport Clube Corinthians,
em Itaquera (zona leste).
Os trabalhos da CPI só serão encerrados no próximo dia 23, mas
seu presidente adianta que existem provas suficientes para pedir
a retomada dessas áreas. "Esse
número deve aumentar e pode
chegar a 60", disse Tatto.
A comissão foi criada pela Câmara após reportagem da Folha,
publicada em 4 de fevereiro deste
ano, que revelou existir, em ao
menos 19 áreas públicas cedidas,
questionamento sobre o atendimento ao interesse público. Desse
grupo, 17 estão incluídas no grupo das 43 definidas pela CPI.
Nos depoimentos à comissão,
os representantes das instituições
deram uma mostra de como pode
ser difícil a negociação. Alguns
disseram aos vereadores que permitem que a comunidade use a
estrutura da entidade, desde que
previamente agendado.
Tatto afirmou, no entanto, que a
a CPI pediu provas disso, o que
não foi apresentado pelas entidades. "E ceder os espaços de vez em
quando não paga o valor da área",
disse o vereador.
Vale tudo para justificar a apropriação indevida de um terreno
cuja dona é a municipalidade. Os
"invasores" chegam a afirmar,
por exemplo, que a ocupação por
empresa/entidade é para tomar
conta do patrimônio público.
Ameaça de invasão de sem-teto,
descaso do poder municipal,
aglomeração de "marginais" e até
mau cheiro de um brejo já foram
usados em depoimentos na CPI
como argumentos por representantes de entidades ou empresas
para cercar áreas públicas.
"Falam tudo isso sem cerimônia, na cara dura mesmo", disse o
presidente da comissão.
A Câmara suspendeu a tramitação de 24 projetos que pedem novas cessões de áreas. Três deles solicitam a prorrogação do prazo de
contratos que estão sendo questionados pela CPI. "É preciso moralizar primeiro", afirmou Tatto.
A comissão vai encaminhar os
resultados finais da investigação
ao Ministério Público para que
aquelas entidades/empresas irregulares sejam acionadas judicialmente para o cumprimento da
contrapartida estabelecida no termo de cessão/permissão assinado
pela prefeitura paulistana.
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