São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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Rede é usada para achar emprego

DA REDAÇÃO

"Com a ajuda da internet, ninguém precisa gastar tanto com condução para ir atrás de emprego." A monitora Francinete calcula que 50% dos frequentadores do infocentro do Jardim São Luís são adultos à procura de colocação e de reciclagem profissional. Há, segundo ela, uma grande demanda por envio de currículos.
O acesso à rede significa, nesse contexto, economia dos recursos da população de baixa renda e encurtamento das longas distâncias que separam a periferia das regiões centrais da cidade.
Francinete estima em uma hora o tempo médio para chegar ao centro da cidade. São necessárias duas conduções tanto na ida como na volta. Os deslocamentos implicam um gasto de até R$ 6.
Esse valor tem um forte impacto no orçamento das famílias da região, cujos chefes de domicílio têm renda média mensal de R$ 807 (55% da média da capital, segundo dados do Censo 2000).
O projeto GMD (Gestão de Mídias Digitais), no qual Francinete está integrada, é composto -como as demais atividades da Cidade do Conhecimento- de encontros na rede e na própria USP.
O GMD reúne 170 monitores de postos públicos de acesso gratuito à internet (infocentros do governo estadual e telecentros da prefeitura). A grande maioria deles atua na periferia da capital.
Os dois primeiros encontros dos quais Francinete participou na Cidade Universitária trouxeram reflexos em seu trabalho.
"A outra metade do público daqui é composta por crianças. Elas estão sempre à procura de diversão nova na rede. Eu não tinha muita paciência. Hoje, mudei minha forma de me relacionar com elas aqui no infocentro."
A monitora diz que passou a enxergar com mais clareza as oportunidades que estão sendo criadas pela tecnologia. As crianças devem ser bem preparadas para a nova realidade. "Todo esse desenvolvimento vai ser para elas."

Zona leste
A monitora Érika Regina Silva Alves, 19, do infocentro Vila Conceição, na zona leste, presta assistência a um público que se divide em três grupos: os que querem enviar currículos pela internet, os que preparam trabalhos escolares e os que (surpresa!) jogam xadrez.
"Todos pensam que é um jogo praticado pelas classes média e alta. Não é bem assim. Aqui temos jogadores de ponta, que fazem pesquisa na internet para se manterem atualizados", diz Érika.
O posto do Acessa São Paulo fica a cerca de uma hora e meia do centro de São Paulo. Os chefes de domicílio da Vila Curuçá, da qual a Vila Conceição faz parte, têm renda mensal média de R$ 654 (44% da média da capital).
Érika está empolgada com as duas reuniões do GMD das quais participou. "É superimportante. Surgem novas idéias em conjunto com os novos monitores. Isso fortalece a nossa rede."
Após os encontros na Cidade Universitária, Érica está ajudando a implantar um grêmio recreativo dos usuários do infocentro. "Um dos nossos objetivos é encaminhar às autoridades as queixas dos moradores."
Os monitores do GMD devem formar grupos para desenvolver projetos. Érica idealiza um na área cultural, que englobe várias modalidades, como teatro, música e dança. Ela quer usar a web como fonte de informação e de captação de patrocínio.
Adriano Dias Garrido, 27, que trabalha como monitor no mesmo infocentro, surpreendeu-se com a magnitude que o projeto de inclusão digital pode assumir. "É algo que demanda tempo e precisa ser bem trabalhado."

Conteúdo próprio
O GMD não tem como objetivo apenas reforçar os laços da internet da periferia. A idéia é induzir a formação de conteúdo pelas comunidades. Hoje, a web se dirige a camadas específicas da sociedade, de poder aquisitivo mais alto.
"Qual é a internet útil para as comunidades pobres? Elas é que têm de decidir essa questão. Não basta apenas o acesso. A inclusão se dá com a produção do conteúdo da rede", diz Ricardo Kobashi, 37, presidente da organização não-governamental CDI-SP (Comitê para a Democratização da Informática de São Paulo).



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