São Paulo, sexta-feira, 08 de setembro de 2006

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BARBARA GANCIA

Uma reputação jogada ao vento


O mais triste é que Paulo Betti continua em estado de "denial", recusando-se a aceitar os fatos


EU GOSTO do Paulo Betti. Gosto mesmo. Do que conheço dele e em todos os contatos que tivemos, só tenho coisas boas a dizer a seu respeito. Não há a menor dúvida de que se trata de um homem de bem, um sujeito leal e decente que não suja e não quer ver sujar as mãos. Mas não é de hoje que discordo de sua visão de mundo.
Lembro, da última vez que o encontrei, no meio da crise do mensalão, que Paulo estava decepcionado com o PT. O que imagino que tenha acontecido desde esse nosso último encontro até a declaração que tanto furor causou, de que não se pode fazer política sem "sujar as mãos", é o que ocorreu com vários outros petistas de boa fé, que tentaram lidar com seu desapontamento de uma maneira ou de outra.
É difícil para um homem da índole de Paulo Betti aceitar que o partido pelo qual batalhou apaixonadamente por tantos anos tenha se transformado em uma quadrilha de gente ávida pelo poder, que trafica dólares na cueca e recebe Land Rovers de presente de empreiteiros.
Uma maneira de lidar com a dor é tapar o sol com a peneira e acreditar na versão oficial confeccionada por Lula, de que todos os crimes cometidos por seus assessores mais próximos estão relacionados a caixa dois de campanhas. Não estão e, ao defender publicamente gente que mentiu, que desviou dinheiro até de fundos de pensão do trabalhador, que assinou contratos falsos para obter empréstimos e que tentou amordaçar a imprensa livre, tudo com o objetivo de se perpetuar no poder, Paulo Betti acabou maculando sua reputação à toa.
É escabroso que agora ele seja encarado como alguém que não se incomoda com a falta de princípios na política, justo ele que batalhou ao lado de Betinho pela ética. Mais triste ainda é constatar que Betti continua naquilo que os norte-americanos chamam de "denial" (estado de negação), ou seja, que se recuse a aceitar os fatos.
Na carta aberta em que defende sua afirmação sobre "sujar as mãos", Paulo Betti diz que "as transgressões na política são inevitáveis". Pode ser.
Uma das conseqüências mais nefastas da Constituição do dr. Ulysses foram as alianças espúrias. Mas que Paulo Betti não se engane: o governo Lula elevou a promiscuidade que resulta dessas alianças a níveis nunca antes atingidos.

Helô coração de manteiga
De tanta curiosidade, estou quase mandando uma carta para a coluna Barbara Responde: por que a candidata Heloísa Helena chorou tão copiosamente no discurso de despedida do senador Luiz Estevão, em sessão a portas fechadas no Senado? Será que as lágrimas da senadora explicam porque ACM teria queimado a língua e o mandato ao revelar que ela votara contra a cassação de Estevão? E por que ela agora diz que Estevão é "rico e ordinário" e que "vomita em cima" de gente como ele? Tem coisas que só o coração explica, não é mesmo?

Já vi esse filme
O australiano Steve Irwin era um grande conservacionista. Mas, vem cá: sacudir o filho recém-nascido na frente de um crocodilo não é coisa de Michael Jackson?

barbara@uol.com.br

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