São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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TRAGÉDIA EM OSASCO
Parentes de vítimas esperam identificação do culpado; em um caso, familiar quer acionar Universal
Famílias de mortos querem indenização

Jorge Araújo/Folha Imagem
Ademir Tobias de Camargo com os filhos Bruno (no colo), Andréa e Aparecida; ele perdeu sua mulher, Ana Germana, no desabamento


CARLA CONTE
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Os familiares das vítimas fatais do acidente no tempo da Igreja Universal do Reino de Deus afirmam que pretendem pedir indenização para os responsáveis pela tragédia, que matou pelo menos 24 fiéis que oravam durante vigília na madrugada do último sábado, em Osasco (Grande SP). Ademir Tobias de Camargo, que está desempregado há um ano e meio, afirma que não tem como sobreviver e manter seus quatro filhos. "Nós estávamos dependendo de minha mulher, que trabalhava como camelô. Ela era nosso sustento, porque eu não conseguia achar emprego", afirma Camargo, que chegou a frequentar a Universal por um ano, mas deixou de ir aos cultos há dois. Segundo ele, a Universal disse que vai ajudar as famílias das vítimas. "Mas eu já estou sem dinheiro para comprar leite para meus filhos. Não posso ficar esperando", disse. Segundo Camargo, se a Universal se negar a dar ajuda financeira, ele vai entrar com pedido de indenização na Justiça. Os pais de Mônica de Jesus Andrade, 21, enterrada ontem em Santana do Parnaíba (Grande SP), também pretendem pedir indenização em nome do neto, Renan Lucas, de 1 ano -o menino mora com os pais de Mônica. Segundo o ex-companheiro da vítima, Francisco Antônio Sampaio da Silva, 19, apesar de a criança não morar com a mãe, quase tudo o que ela recebia como empregada doméstica ia para as despesas com a criança. "Achamos que foi negligência da Universal, porque soubemos de um incidente com o teto na semana anterior à tragédia e nada foi feito", disse Francisco. O comerciante Valdir Ursulino Sobrinho, 38, marido de Maria Gorette Leite Ursulina, que morreu no acidente, afirma que a indenização é uma forma de punir os culpados. "Nenhum dinheiro vai trazer de volta minha mulher, mas também não podemos ficar de braços cruzados, porque aí novas tragédias vão acontecer", diz. "Se não houver indenização, isso dará incentivo aos irresponsáveis que não cumprem com suas obrigações e acabam gerando mais e mais acidentes que poderiam ser evitados", afirma o cabeleireiro Francisco Martins Leito, irmão de Maria Gorette. Eles afirmam que a indenização vai servir de exemplo ao país e "as pessoas ficarão mais atentas e tomarão mais cuidado". Fernando Rosendo, genro da vítima Maria Diva Lourenço, 60, afirmou que a família está se preparando para tomar as atitudes necessárias para ter seus direitos. "O acidente não pode ficar sem punição. Não é pelo dinheiro que pediremos indenização, mas não é justo deixar esse tipo de coisa acontecer sem que nada seja feito." Juancy Francisco Alves, irmão de Joanilson, morto no desabamento, disse que vai conversar com a polícia e ver como estão as investigações. "Pensamos em indenização, mas precisamos saber quem é o culpado."



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