|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO
Proposta de incentivo à saúde
ANTONIO CELSO NASSIF
Os hospitais públicos federais,
estaduais e municipais e os hospitais de clínicas ligados às inúmeras
universidades e faculdades de medicina vivem hoje, de forma preocupante, o drama comum da falta
de recursos. Eles estão dependentes quase exclusivamente das receitas obtidas dos serviços que
prestam ao Sistema Único de Saúde, cujas tabelas, totalmente defasadas e aviltadas, em muitos casos,
não cobrem nem os custos.
Assim, esses hospitais procuram, com a criatividade dos seus
dirigentes, fontes alternativas de
receita ou a ajuda da sociedade civil organizada. Criam setores destinados a pacientes particulares e
de convênios, imploram por doações em dinheiro, mercadorias,
material médico-hospitalar e tudo
o mais que possa ser doado.
Em 1986, quando dirigíamos a
Associação Médica do Paraná, enviamos ao então presidente José
Sarney documento para conseguir
que os benefícios da Lei Rouanet,
destinada exclusivamente à cultura, fossem estendidos especificamente a essas instituições públicas
como incentivos à saúde.
Com isso, todas as doações ou
adoções para elas canalizadas seriam institucionalizadas, teriam
recíproca legal e poderiam ganhar
muito mais força e representatividade, multiplicando-se e até ultrapassando nossas fronteiras.
A adoção de um posto de saúde
por uma empresa de determinado
bairro, de um setor de queimados
de um hospital público por fábricas estabelecidas na região e de um
ou mais residentes nos hospitais
universitários por segmentos da
sociedade civil organizada seriam
apenas algumas das opções viáveis
e humanitárias.
Há que se criar no Brasil a cultura da "doação" e da "adoção",
extremamente comuns nos países
do Primeiro Mundo. Entendemos
que só assim poderemos ter a esperança de oferecer dias melhores
para os pobres e miseráveis, que
somam milhões em nosso país.
Em várias ocasiões, por meio de
artigos, defendemos essa tese.
Existem inúmeras pessoas com recursos, empresários, indústrias
nacionais e estrangeiras sensíveis
a essa prática e desejosos de colaborar. Recentemente, estivemos
com o ministro José Serra para
apresentar-lhe esse projeto e conseguimos sensibilizá-lo.
Quem sabe, agora que a situação
da saúde em nosso país é ainda
mais crítica, sem perspectivas de
novos recursos orçamentários,
possamos conseguir o apoio dos
membros do Congresso Nacional,
viabilizando-a por meio de texto
legal? Podemos abrir um novo caminho, ainda não trilhado, para
tentar solucionar esse gravíssimo
problema social.
Antonio Celso Nassif, 64, é médico e presidente da Associação Médica Brasileira
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|