São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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OPINIÃO

Proposta de incentivo à saúde

ANTONIO CELSO NASSIF

Os hospitais públicos federais, estaduais e municipais e os hospitais de clínicas ligados às inúmeras universidades e faculdades de medicina vivem hoje, de forma preocupante, o drama comum da falta de recursos. Eles estão dependentes quase exclusivamente das receitas obtidas dos serviços que prestam ao Sistema Único de Saúde, cujas tabelas, totalmente defasadas e aviltadas, em muitos casos, não cobrem nem os custos.
Assim, esses hospitais procuram, com a criatividade dos seus dirigentes, fontes alternativas de receita ou a ajuda da sociedade civil organizada. Criam setores destinados a pacientes particulares e de convênios, imploram por doações em dinheiro, mercadorias, material médico-hospitalar e tudo o mais que possa ser doado.
Em 1986, quando dirigíamos a Associação Médica do Paraná, enviamos ao então presidente José Sarney documento para conseguir que os benefícios da Lei Rouanet, destinada exclusivamente à cultura, fossem estendidos especificamente a essas instituições públicas como incentivos à saúde.
Com isso, todas as doações ou adoções para elas canalizadas seriam institucionalizadas, teriam recíproca legal e poderiam ganhar muito mais força e representatividade, multiplicando-se e até ultrapassando nossas fronteiras.
A adoção de um posto de saúde por uma empresa de determinado bairro, de um setor de queimados de um hospital público por fábricas estabelecidas na região e de um ou mais residentes nos hospitais universitários por segmentos da sociedade civil organizada seriam apenas algumas das opções viáveis e humanitárias.
Há que se criar no Brasil a cultura da "doação" e da "adoção", extremamente comuns nos países do Primeiro Mundo. Entendemos que só assim poderemos ter a esperança de oferecer dias melhores para os pobres e miseráveis, que somam milhões em nosso país.
Em várias ocasiões, por meio de artigos, defendemos essa tese. Existem inúmeras pessoas com recursos, empresários, indústrias nacionais e estrangeiras sensíveis a essa prática e desejosos de colaborar. Recentemente, estivemos com o ministro José Serra para apresentar-lhe esse projeto e conseguimos sensibilizá-lo.
Quem sabe, agora que a situação da saúde em nosso país é ainda mais crítica, sem perspectivas de novos recursos orçamentários, possamos conseguir o apoio dos membros do Congresso Nacional, viabilizando-a por meio de texto legal? Podemos abrir um novo caminho, ainda não trilhado, para tentar solucionar esse gravíssimo problema social.


Antonio Celso Nassif, 64, é médico e presidente da Associação Médica Brasileira



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