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EDUCAÇÃO
Tese afirma que novas carreiras, criadas para atrair estudantes, não têm relação direta com exigências do mercado
Faculdade divide cursos para somar alunos
FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local
A intensa competição entre as
instituições particulares de ensino
superior no país está provocando
uma fragmentação de cursos que
ameaça não só a qualidade da educação como a empregabilidade
dos estudantes.
O que vem ocorrendo é que, na
disputa por alunos, as faculdades e
universidades particulares estão
criando novas carreiras que não
têm relação direta com as exigências do mercado de trabalho ou
com o desenvolvimento da ciência
coberta pelo curso.
"A carreira de engenharia é um
caso exemplar da ampliação do
número de cursos mediante a sua
fragmentação", diz Helena Sampaio, que defendeu em julho a tese
de doutoramento "O setor privado de ensino superior no Brasil",
orientada pela antropóloga e primeira-dama Ruth Cardoso.
Segundo a tese, há hoje 21 carreiras diferentes na engenharia
-que vão das mais tradicionais,
como civil e elétrica, a divisões que
criam um profissional altamente
especializado e, por isso mesmo,
pouco versátil para enfrentar um
mercado de trabalho em mutação,
como agrimensura ou plásticos.
O curso de administração de empresas, que tem o maior contingente de alunos do país, segue o
mesmo caminho, hoje com 16 carreiras -há, por exemplo, administração rural e tecnologia em administração rural.
Nas ciências da saúde, de 1985 a
96, foram criados 73 cursos, surgindo habilitações como psicomotricidade e musicoterapia.
A competição entre cursos ocorre porque hoje a oferta de vagas no
ensino superior é maior do que a
demanda (leia quadro).
A tese de Sampaio é resultado de
oito anos de pesquisas no Nupes-USP (Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo). Reúne dados
que ela mesma produziu e de outros pesquisadores do núcleo.
Com 407 páginas -fora os anexos-, a tese é um dos mais completos mapeamentos sobre o ensino superior privado do país.
Além de um histórico da área e
de comparações com sistemas de
ensino superior de outros países, o
trabalho aponta novos problemas
-como o da fragmentação das
carreiras- e derruba velhos preconceitos -como a titulação e o
regime de trabalho do corpo docente serem indicadores diretos de
qualidade de ensino (leia textos).
Tese: "O setor privado de ensino superior
no Brasil", doutorado em ciência política
na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo
Autora: Helena Maria Sant'Ana Sampaio,
37
Banca: Ruth Cardoso (orientadora, USP),
Eunice Durham (USP), Sonia Draibe
(Unicamp), Maria do Carmo Campello de
Souza (USP)
Nota: aprovada com recomendação de
publicação
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