São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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EDUCAÇÃO
Tese afirma que novas carreiras, criadas para atrair estudantes, não têm relação direta com exigências do mercado
Faculdade divide cursos para somar alunos

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

A intensa competição entre as instituições particulares de ensino superior no país está provocando uma fragmentação de cursos que ameaça não só a qualidade da educação como a empregabilidade dos estudantes.
O que vem ocorrendo é que, na disputa por alunos, as faculdades e universidades particulares estão criando novas carreiras que não têm relação direta com as exigências do mercado de trabalho ou com o desenvolvimento da ciência coberta pelo curso.
"A carreira de engenharia é um caso exemplar da ampliação do número de cursos mediante a sua fragmentação", diz Helena Sampaio, que defendeu em julho a tese de doutoramento "O setor privado de ensino superior no Brasil", orientada pela antropóloga e primeira-dama Ruth Cardoso.
Segundo a tese, há hoje 21 carreiras diferentes na engenharia -que vão das mais tradicionais, como civil e elétrica, a divisões que criam um profissional altamente especializado e, por isso mesmo, pouco versátil para enfrentar um mercado de trabalho em mutação, como agrimensura ou plásticos.
O curso de administração de empresas, que tem o maior contingente de alunos do país, segue o mesmo caminho, hoje com 16 carreiras -há, por exemplo, administração rural e tecnologia em administração rural.
Nas ciências da saúde, de 1985 a 96, foram criados 73 cursos, surgindo habilitações como psicomotricidade e musicoterapia.
A competição entre cursos ocorre porque hoje a oferta de vagas no ensino superior é maior do que a demanda (leia quadro).
A tese de Sampaio é resultado de oito anos de pesquisas no Nupes-USP (Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo). Reúne dados que ela mesma produziu e de outros pesquisadores do núcleo.
Com 407 páginas -fora os anexos-, a tese é um dos mais completos mapeamentos sobre o ensino superior privado do país.
Além de um histórico da área e de comparações com sistemas de ensino superior de outros países, o trabalho aponta novos problemas -como o da fragmentação das carreiras- e derruba velhos preconceitos -como a titulação e o regime de trabalho do corpo docente serem indicadores diretos de qualidade de ensino (leia textos).

Tese: "O setor privado de ensino superior no Brasil", doutorado em ciência política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
Autora: Helena Maria Sant'Ana Sampaio, 37
Banca: Ruth Cardoso (orientadora, USP), Eunice Durham (USP), Sonia Draibe (Unicamp), Maria do Carmo Campello de Souza (USP)
Nota: aprovada com recomendação de publicação



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