São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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PREVENÇÂO
País deve apresentar programa para prevenir surgimento de doenças cardíacas
Brasil é laboratório de estilo de vida

NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

O Brasil vai se tornar um grande laboratório para uma campanha de mudança no estilo de vida de sua população. O objetivo é prevenir o aparecimento de doenças cardíacas.
A partir de 1º de janeiro de 99, os brasileiros começam a ser doutrinados a olhar com desconfiança para feijoadas, salgadinhos e hambúrgueres. Também vão ser "empurrados" das poltronas para praticar algum tipo de exercício físico.
O projeto pretende evitar o problema cardíaco antes que ele apareça. A prevenção é a maneira mais eficiente e barata de fazê-lo. Hoje, os problemas cardíacos são a primeira causa de morte em todo o mundo.
A decisão para deflagrar a campanha foi tomada em abril, durante o Congresso Mundial de Cardiologia, no Rio, e a escolha do Brasil se deveu à eleição do novo presidente da entidade, o cardiologista Mário Maranhão, do Paraná.
"A campanha tem o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Para realizá-la, estão sendo estudados convênios com os ministérios da Saúde e da Educação", diz Maranhão.

Mudança de hábito
A campanha vai durar dois anos. Depois de terminada, as práticas adotadas no Brasil serão avaliadas para eventualmente serem implantadas nos outros países. Os brasileiros devem apresentar o impacto da mudança no estilo de vida na incidência de doenças coronárias.
O principal objetivo é, em dois anos, observar se houve decréscimo nos casos e se houve mudanças significativas nos hábitos da população.
Também deve ser mostrada a relação de um eventual decréscimo em problemas coronários com a mudança no estilo de vida.
Segundo Maranhão, a campanha definiu quatro públicos distintos que serão abordados de acordo com suas características.
"Vamos começar com as crianças. Toda campanha de prevenção é educativa e deve estar ligada à escola. Por isso, o Ministério da Educação deve incluir materiais e informações sobre o assunto nas escolas. As crianças vão ser ensinadas, com dados bem básicos, a cuidar de sua saúde. A "Turma da Mônica' vai ilustrar as informações para eles, em parceria com a Fundação Maurício de Souza, com a Sociedade Brasileira de Cardiologia e com o Incor de São Paulo", afirma o cardiologista.
O principal grupo são os adultos expostos a situações de risco. Nessa categoria se enquadram hipertensos e diabéticos, além de fumantes, estressados, sedentários e todos os que mantêm hábitos alimentares desaconselháveis.
Nesse grupo, os homens são o alvo principal, já que a incidência de problemas no coração ainda é maior nos homens do que nas mulheres. Para esse grupo serão reforçados os avisos para abandonar o cigarro, evitar alimentos gordurosos e praticar algum tipo de esporte.

Atenção especial
As mulheres ganharam atenção especial. "O número de mulheres com problemas cardíacos vem aumentando. Os principais motivos são o tabagismo -elas estão fumando mais- e o estilo de vida. Elas copiaram o que tinha de pior no estilo de vida dos homens. Comem mal, sofrem estresse e por isso estão mais vulneráveis a problemas no coração", diz Maranhão.
Os idosos formam o último alvo da campanha. "Apesar de menos propensos a infartos, os idosos precisam se cuidar. Para eles, o estilo de vida saudável é muito importante. Nunca é tarde para começar a fazer prevenção."
O cardiologista diz ainda que projeto semelhante realizado em menor escala nos Estados Unidos apresentou os melhores resultados no grupo da terceira idade.
Segundo Maranhão, todo o projeto será acompanhado pela OMS e pelas sociedades de cardiologia de países desenvolvidos.
"Muitos não sabem, mas o Brasil tem o mesmo grau de problemas e doentes cardíacos que países desenvolvidos. É um país que ainda luta contra o cólera, mas também precisa se preocupar com o coração."



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