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BARBARA GANCIA
Mundo ao avesso
Munido da acuidade que
lhe é habitual, o psicanalista-barra-colunista Contardo Calligaris esmiuçou, ontem, nesta
Folha, um projeto de lei escandaloso e fundamentalista que deve
ser votado em breve pela Assembléia Legislativa do Rio.
Apresentado pelo deputado
evangélico Edino Fonseca (PSC),
o projeto de lei prevê a criação de
um programa para "auxiliar"
pessoas que voluntariamente
queiram "mudar a sua orientação homossexual".
Ao mesmo tempo em que essa
aberração em forma de "cura"
tramita na assembléia fluminense, pelos motivos mais ignóbeis, a
causa da união estável dos homossexuais toma corpo no norte
do país.
A saber: na semana passada, o
TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
cassou o registro de Maria Eulina
Rabelo de Sousa (PFL), candidata
a prefeita de Viseu (a 368 km de
Belém, no Pará), por manter "relacionamento conjugal" com a
atual prefeita, Astrid Maria Cunha e Silva.
A norma da inelegibilidade de
cônjuges, expressa na Constituição, não se manifesta a respeito
das relações homossexuais. Mesmo assim, o TSE entendeu que
existia entre a postulante ao cargo
e sua parceira, a atual prefeita,
"um forte vínculo afetivo, capaz
de unir pessoas em torno de interesses comuns e, por essa razão,
sujeitas à regra constitucional do
artigo 14, que proíbe a eleição
de cônjuges".
Não é preciso ser nenhum Contardo Calligaris para interpretar
o que diz o tribunal. Na visão da
lei eleitoral, o relacionamento entre a prefeita e sua parceira postulante ao cargo se equipara à convivência estável entre homem e
mulher, ou seja, a um casamento.
Muito bem. Se dona Maria Eulina Rabelo de Sousa não pode concorrer ao cargo de prefeita por
manter relacionamento conjugal
com a atual alcaidessa de Viseu,
dona Astrid Maria Cunha e Silva,
será que isso significa que, perante
a lei, elas também serão equiparadas aos casais heterossexuais na
hora de exigir direitos extensivos,
como, por exemplo, os benefícios
concedidos pelo INSS e pelas aposentadorias ou, quem sabe, até a
possibilidade de comprar um título familiar em algum clube de
campo paraense?
Quem diria. Por razões nada
edificantes, as senhoras paraenses
devem entrar para a história tapuia dos direitos civis como marco, abrindo o leque para um sem-número de jurisprudências.
Como diriam os franceses, é
"le monde a l'envers" (o mundo
ao avesso)...
QUALQUER NOTA
Viagem pela cartofilia
O colecionador de cartões-postais João Emilio Gerodetti nos
brinda com mais um biscoito
fino. Trata-se do livro "Lembranças do Brasil", que reúne
624 imagens de época de várias
capitais brazucas e apresenta
um estudo minucioso comparando paisagens antigas ao cenário atual. Além de precioso
registro histórico, a obra é simplesmente deslumbrante.
Corretíssimo
Para os leitores que sempre escrevem em busca de dicas gastronômicas, eis uma ótima pedida: o restaurante Piccola Roma, da alameda Lorena. Sua
torta tenerina põe o tal do petit
gâteau para correr!
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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