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VÔO 1907/ÓRFÃOS
"Apesar de pequena, Luana entende"
Menina de 8 anos sabe que perdeu o pai, Lavoisier Maia, 32, e a irmã dele, Maria Zilda Maia, 41, segundo a família
Para psicólogo, é importante que as crianças participem do processo de pesar, pois sentirão o apoio da família e poderão expressar a perda
DA REPORTAGEM LOCAL
O vigilante Lavoisier Maia,
outra vítima do acidente, deixou a mulher, Maria, 32, e uma
filha de oito anos, Luana. Segundo Elizabeth, irmã de Lavoisier, a sobrinha já sabe da
morte do pai.
"A psicóloga que está acompanhando diz que é pior esconder. Quanto mais tempo demorar para contar a verdade, pior
fica. Apesar de pequena, ela entende e está muito triste", diz.
Na opinião de Elizabeth, a
demora na identificação dos
corpos tornou a situação mais
desgastante. "Queremos dar
um enterro decente a eles."
Seu irmão foi identificado na
sexta-feira.
Maria Zilda Maia, 41, irmã de
Lavoisier, também morreu no
acidente. Sua filha Zildomara
Maia, 21, muito abalada, preferiu não conversar com a reportagem. Ela está em Brasília desde domingo passado, em companhia do irmão, Vanderson,
20. Até o fechamento desta edição, ela e Rosa não haviam sido
identificados.
Tabu da morte
"As crianças de sete, oito e
nove anos já têm noção da irreversibilidade da morte. Os
adultos devem falar abertamente sobre isso", diz Aroldo
Escudeiro, psicólogo e tanatólogo (que estuda a morte).
Segundo ele, para as crianças
mais novas -que não entendem o fenômeno racionalmente, mas emocionalmente-, a
morte é representada pela ausência de uma pessoa querida.
Escudeiro diz que é importante que as crianças participem do processo de pesar.
"Muitas pessoas acham que,
para protegê-las, é melhor deixá-las com um vizinho. Mas
elas têm que participar do enterro, ir junto aos rituais. Assim, sentirão o apoio da família
e poderão expressar o pesar."
De acordo com ele, a morte
súbita, como a do acidente aéreo, é ainda mais difícil de assimilar do que a morte anunciada, de alguém que está doente.
"No caso desse acidente aéreo, a situação é ainda mais
complicada, porque existe uma
perda ambígua, já que muitos
corpos ainda estão desaparecidos. Ver o corpo do morto dá a
certeza de que é preciso entrar
no processo de pesar. Isso fecha
o ciclo", explica.
Coordenador da Rede Nacional de Tanatologia, o psicólogo
afirma que os filhos que perderam os pais no acidente, principalmente as crianças, necessitam de ajuda profissional para
superar o que aconteceu. "Eles
precisam se expressar, xingar,
falar da sua dor, da sua perda,
do seu medo."
(AFRA BALAZINA e MARIANA TAMARI)
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