São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÔO 1907/ÓRFÃOS

"Apesar de pequena, Luana entende"

Menina de 8 anos sabe que perdeu o pai, Lavoisier Maia, 32, e a irmã dele, Maria Zilda Maia, 41, segundo a família

Para psicólogo, é importante que as crianças participem do processo de pesar, pois sentirão o apoio da família e poderão expressar a perda

DA REPORTAGEM LOCAL

O vigilante Lavoisier Maia, outra vítima do acidente, deixou a mulher, Maria, 32, e uma filha de oito anos, Luana. Segundo Elizabeth, irmã de Lavoisier, a sobrinha já sabe da morte do pai.
"A psicóloga que está acompanhando diz que é pior esconder. Quanto mais tempo demorar para contar a verdade, pior fica. Apesar de pequena, ela entende e está muito triste", diz.
Na opinião de Elizabeth, a demora na identificação dos corpos tornou a situação mais desgastante. "Queremos dar um enterro decente a eles."
Seu irmão foi identificado na sexta-feira.
Maria Zilda Maia, 41, irmã de Lavoisier, também morreu no acidente. Sua filha Zildomara Maia, 21, muito abalada, preferiu não conversar com a reportagem. Ela está em Brasília desde domingo passado, em companhia do irmão, Vanderson, 20. Até o fechamento desta edição, ela e Rosa não haviam sido identificados.

Tabu da morte
"As crianças de sete, oito e nove anos já têm noção da irreversibilidade da morte. Os adultos devem falar abertamente sobre isso", diz Aroldo Escudeiro, psicólogo e tanatólogo (que estuda a morte).
Segundo ele, para as crianças mais novas -que não entendem o fenômeno racionalmente, mas emocionalmente-, a morte é representada pela ausência de uma pessoa querida.
Escudeiro diz que é importante que as crianças participem do processo de pesar. "Muitas pessoas acham que, para protegê-las, é melhor deixá-las com um vizinho. Mas elas têm que participar do enterro, ir junto aos rituais. Assim, sentirão o apoio da família e poderão expressar o pesar."
De acordo com ele, a morte súbita, como a do acidente aéreo, é ainda mais difícil de assimilar do que a morte anunciada, de alguém que está doente.
"No caso desse acidente aéreo, a situação é ainda mais complicada, porque existe uma perda ambígua, já que muitos corpos ainda estão desaparecidos. Ver o corpo do morto dá a certeza de que é preciso entrar no processo de pesar. Isso fecha o ciclo", explica.
Coordenador da Rede Nacional de Tanatologia, o psicólogo afirma que os filhos que perderam os pais no acidente, principalmente as crianças, necessitam de ajuda profissional para superar o que aconteceu. "Eles precisam se expressar, xingar, falar da sua dor, da sua perda, do seu medo." (AFRA BALAZINA e MARIANA TAMARI)

Texto Anterior: Há 50 anos: Assassino do major Vaz é julgado
Próximo Texto: Vítima escapou de acidente aos 6 meses de vida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.