São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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"Estou totalmente anestesiado", afirma filho

DA REPORTAGEM LOCAL

Leonardo Rodrigues, 17, está terminando o terceiro ano do ensino médio, mora em Brasília há um ano e acabou de perder o pai, Adair Rodrigues, na queda do vôo 1907 da Gol.
O rapaz, que não tem irmãos, acredita estar reagindo bem à tragédia, apesar da dor que a morte traz. Diz que precisa dar força para a mãe, que ""sofreu um pouco mais". Explica sua postura em relação a ela: ""É que não é fácil lidar com a morte, sabe?". O adolescente se considera bastante racional. Não é religioso como a mãe ou o pai. E acha que isso ajuda a aceitar os fatos com mais serenidade.
Leonardo, porém, encontrou onde buscar apoio. Ele acha que trocar informações pela internet ajuda ""quem está de fora" a entender o que se passa com os familiares dos envolvidos na tragédia. E, com isso, recebe apoio de milhares de pessoas, mesmo desconhecidas.
""Espero que você que tá lendo agora nunca tenha perdido alguém próximo, porque a sensação é... não existe sensação. Eu tô há dois, três dias totalmente anestesiado, fisicamente e mentalmente falando."
Essa mensagem é um dos desabafos de Leonardo em uma comunidade do Orkut que presta homenagem às vítimas do acidente. O tópico por ele escrito recebeu mais de 90 respostas de solidariedade à sua perda. A comunidade tem mais de 20,5 mil membros.
""No país a gente tem memória curta para muita coisa, não quero que as pessoas se esqueçam da dor que a gente está passando. Não é uma coisa que eu vou pedir por Orkut [solidariedade], mas eu acho que eu estou reagindo bem a tudo."
A universitária Luana Lleras, 20, perdeu de uma só vez a mãe, Ângela Leite, o irmão, Mário Lleras, e o sobrinho Daniel, no acidente e também recebeu mensagens de apoio no Orkut.
""Obrigada pelas mensagens e pela força que vocês nos têm dado. Se não fosse por vocês, acho que não suportaríamos a situação. É bom saber que temos com quem contar, mesmo nos momentos difíceis", diz.
Para buscar o pai em Manaus -ele estava trabalhando e não viajou com a mulher-, Luana precisou pegar um avião da Gol no sentido contrário ao que seus parentes tomaram no dia da tragédia.
Luana mora em Brasília com a irmã e não via a mãe havia meio ano. Já o irmão Mário fazia cerca de dois anos que não encontrava. O acidente interrompeu os planos de passarem um período juntos.
""Quando soubemos do acidente, a primeira coisa que eu e minha irmã pensamos foi em buscá-lo para ficarmos unidos nesse momento", diz.
Isabela Rezende, 28, perdeu mãe e pai na queda do vôo 1907l. Ele esperava Ismar Rezende, 57 e Maria Rezende, 57, após um passeio em Manaus para que pudessem jantar juntos quando ficou sabendo da queda do avião. ""Os dois viajavam sempre juntos, estavam casados há 34 anos. Eram super companheiros", conta Isabela.
Ela é fonoaudióloga e mora em Palmas (TO). Seu irmão, Ismar Júnior, 26 é médico na mesma cidade da irmã. ""Vai ser difícil sem eles", lamenta.


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