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VÔO 1907/INDENIZAÇÕES
Advogados disputam famílias de vítimas
Profissionais oferecem a parentes de passageiros do Boeing da Gol serviços para a obtenção de vultosas indenizações
No caso do acidente da TAM, as batalhas jurídicas resultaram em indenizações entre US$ 500 mil e US$ 1,5 milhão para cada família
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
"Pessoal, muito prazer. Eu
nunca vi este indivíduo antes."
A reunião da empresária Sandra Assali, 50, com os familiares de vítimas do vôo 1907, na
última quinta-feira em um hotel de Brasília, começou tensa.
O indivíduo apontado era um
advogado. Com seu laptop, ele
fazia uma apresentação em powerpoint para as famílias e dizia estar recebendo mensagens
de um escritório sediado em
Londres. Seriam instruções sobre as ações indenizatórias cabíveis no caso do acidente da
Gol. "Foi uma péssima surpresa entrar na reunião e esse advogado vir atrás e se sentar ao
meu lado, como se estivesse comigo", diz Assali.
"Acidente aéreo você não
perde. É inquestionável", afirma Assali, presidente da Abrapavaa, Associação Brasileira de
Parentes e Amigos das Vítimas
de Acidentes Aéreos, e viúva de
José Rahal Abu Assali, médico
cardiologista morto aos 45
anos no acidente de 1996 com o
Fokker 100 da TAM, que aconteceu em São Paulo.
No caso do acidente da TAM,
as batalhas jurídicas resultaram em indenizações que giraram entre US$ 500 mil e US$
1,5 milhão para cada uma das
famílias de 99 vítimas (de R$ 1,1
milhão a R$ 3,3 milhões). "É
por isso que tantos advogados
inescrupulosos crescem os
olhos", diz Assali.
"Você encontra uma porção
de advogados querendo enriquecer à custa da tragédia da
gente. Antes de vir a esta reunião, eu mesma recebi telefonemas de uns 30 escritórios,
querendo me acompanhar. Desautorizei-os todos."
Camilo Moisés Barros, que
perdeu o irmão de 39 anos em
2004 em um acidente com aeronave da empresa Rico, contou ter visto famílias que tiveram de destituir o advogado
"por falta de sensibilidade".
"Tivemos problemas seríssimos com isso. Teve advogado
que se recusou a assinar os
acordos com as famílias, porque cismava que elas poderiam
ganhar mais. E as famílias querendo o acordo. Aconteceu até
o caso em que a parente estava
com câncer, precisando da indenização, e o acordo não saía
porque o advogado não queria."
Na quinta-feira, as famílias
que a Gol alojou no hotel Comfort Suites ainda reclamavam
mais rapidez nos trabalhos de
remoção e identificação das vítimas do vôo 1907 (até então,
nenhum corpo havia sido identificado), mas a reunião com
Sandra Assali começou pontualmente às 19h e só se encerrou às 22h, com a promessa de
continuidade no dia seguinte,
logo pela manhã. "Que bom que
você veio", agradeceu Bruno
Maciel Marinho Silva, 24, que
perdeu a mãe, a médica Ana Caminha Silva, 49.
"São muitas dúvidas sobre
nossos direitos e como proceder para garanti-los. A gente
tem muito medo de ser enganada", diz uma familiar.
Na terça-feira à noite, a professora Luciana Siqueira, irmã
de Plínio Siqueira (presidente
da empresa Bombardier em
Campinas, SP) e uma das fundadoras da associação de parentes de vítimas do vôo da Gol,
confirmava: "Vem vindo até
um escritório da Flórida para
falar com a gente".
Formada no domingo passado, a associação reuniu-se pela
primeira vez a partir de iniciativa do empresário Jorge André Cavalcante, que perdeu o
sobrinho Carlos Cruz, 26. Cavalcante diz ter-se inspirado
em Roberto Justus e seu programa Aprendiz: "O importante é ter uma grande idéia".
"Foi uma grande idéia mesmo. O sofrimento envolvido
nesse acidente é tão grande,
que é muito importante estar
junto. Quando um chora, o outro consola. Quando este se desespera, aquele acolhe", diz.
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