São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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passei por isso

Você não sabe se a doença vai ser mais forte

Eu tinha quatro anos quando tudo começou. Minha mãe descobriu um carocinho no pescoço e embaixo do braço. A gente veio da Bahia para São Paulo. Aqui eles disseram que eu tinha um linfoma.
Aí tirei o tumor, o baço, fiz quimioterapia e radioterapia, dos quatro aos dez anos. Três anos depois, tudo voltou. O médico disse que eu ia ter que fazer tudo de novo. Minha mãe sempre apoiava, queria que eu continuasse. Aprendi que a gente deve lutar pelo que quer, mas por mais força de vontade, você não sabe se a doença vai ser mais forte.
Na AACC, entrei eu e mais cinco pessoas. Nenhuma sobreviveu. No decorrer do meu tratamento, iam morrendo os amigos. Eu pensava: será que amanhã vou ser eu? Isso me deixava em pânico.
Foram muitos anos de quimio, radio, várias operações. Mas tinha amigos, sempre tive apoio da minha mãe e da associação. O apoio é tudo. Aprendi a ler e tentava brincar. A gente se fecha, tem muito medo do preconceito.
O médico abria o jogo, me explicava: você vai ter reações, vai cair seu cabelo, vai passar mal, mas é o único jeito de se curar. Cheguei a pensar por que eu tenho e outras pessoas não? Mas não tem uma resposta para isso. Eu não tive resposta para nenhuma das minhas perguntas. Por que estou aqui, por que Deus não me levou ou me faz sofrer? Eu sobrevivi por determinação.
Hoje não tenho nada, nem passo mais no médico. Até esqueço tudo que passei. Agora eu estou aí. E é só alegria.


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