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passei por isso
Você não sabe se a doença vai ser mais forte
Eu tinha quatro anos quando tudo começou. Minha mãe
descobriu um carocinho no
pescoço e embaixo do braço.
A gente veio da Bahia para
São Paulo. Aqui eles disseram
que eu tinha um linfoma.
Aí tirei o tumor, o baço, fiz
quimioterapia e radioterapia,
dos quatro aos dez anos. Três
anos depois, tudo voltou. O
médico disse que eu ia ter que
fazer tudo de novo. Minha
mãe sempre apoiava, queria
que eu continuasse. Aprendi
que a gente deve lutar pelo
que quer, mas por mais força
de vontade, você não sabe se a
doença vai ser mais forte.
Na AACC, entrei eu e mais
cinco pessoas. Nenhuma sobreviveu. No decorrer do meu
tratamento, iam morrendo os
amigos. Eu pensava: será que
amanhã vou ser eu? Isso me
deixava em pânico.
Foram muitos anos de quimio, radio, várias operações.
Mas tinha amigos, sempre tive apoio da minha mãe e da
associação. O apoio é tudo.
Aprendi a ler e tentava brincar. A gente se fecha, tem
muito medo do preconceito.
O médico abria o jogo, me
explicava: você vai ter reações, vai cair seu cabelo, vai
passar mal, mas é o único jeito
de se curar. Cheguei a pensar
por que eu tenho e outras pessoas não? Mas não tem uma
resposta para isso. Eu não tive
resposta para nenhuma das
minhas perguntas. Por que
estou aqui, por que Deus não
me levou ou me faz sofrer? Eu
sobrevivi por determinação.
Hoje não tenho nada, nem
passo mais no médico. Até esqueço tudo que passei. Agora
eu estou aí. E é só alegria.
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