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SAÚDE/ PSICOLOGIA
Câncer e tratamento devem ser explicados às crianças
Livro aborda de forma lúdica e sincera temas como morte, rotina e família
Paciente sente medo, culpa, e revolta. Pais precisam manter tarefas cotidianas e mostrar que acreditam no futuro e na recuperação
CONSTANÇA TATSCH
DE REPORTAGEM LOCAL
Ficar careca, receber injeções, vomitar, ter medo de
morrer. O câncer assusta a todos, mas, quando as crianças
são as vítimas, fica mais difícil
explicar e entender todo o processo de combate à doença.
Pensando nisso, duas psicólogas e uma publicitária escreveram um livro contando o dia-a-dia de quatro crianças doentes no hospital. Juntou-se a
elas, como colaborador, o desenhista Mauricio de Sousa, que
fez as ilustrações. Na história,
quatro superamigos, que representam diferentes formas do
tratamento, incentivam os personagens a lutar contra o
Monstrengo, a personificação
do câncer. Indicado para pacientes de até 12 anos, o livro "A
Batalha do Bem contra o Mal"
aborda temas como morte,
quebra da rotina, relação com o
médico, família e tratamento. A
obra será lançada no dia 30 e
será distribuída em todos os
centros de oncologia do país.
"A primeira hospitalização
dá muito medo. Elas se perguntam por que estão no hospital?
Têm medo da morte e dos exames", diz Maria Letícia Cavalcanti Rotta, uma das autoras do
livro e psicóloga da Associação
de Apoio à Criança com Câncer. Outros sentimentos presentes são a revolta e a culpa.
"Acontece a revolta sim. A
criança se questiona: por que
eu? O que eu fiz de errado? Aí
vem as mais variadas teorias,
"eu bati no meu irmão", "briguei
com a minha mãe". E os pais
também pensam isso. É um tratamento permeado pela culpa,
que vem para justificar o injustificável", explica Letícia.
Ela conta que, às vezes, as
crianças pensam em desistir.
"A gente quer despertar espírito de luta, mas tem que ter cuidado, porque eles sabem que é
difícil, eles estão vendo os amiguinhos morrerem", afirma.
Quem está perto não deve
mostrar pena e é melhor evitar
as cenas de desespero. "Deve
mostrar que acredita no futuro
dele. A gente incentiva a estudar, a pensar o que vai ser quando crescer. Parar de estudar é
como se não tivesse amanhã. E
a criança pensa "tá vendo, não
acreditam na minha cura"."
A psiquiatra do Hospital do
Câncer e uma das autoras do livro "A Criança com Câncer -O
que devemos saber?", Célia Antoneli, sempre diz a verdade
aos pacientes sobre a doença e
o tratamento. "Dependendo da
idade, fazemos associações. A
gente conta, mesmo que ela
não entenda direito. Se você
não disser a verdade, ela não vai
confiar nunca e essa relação é
muito de confiança." Em média, há 70% de chance de cura
nas crianças, e as internações
também tendem a ser mais breves. Segundo a médica, mesmo
na leucemia, cujo tratamento
dura dois anos, os pacientes ficam dois meses no hospital. O
resto é ambulatorial.
Quem também sofre com esse processo e precisa de atenção é a família. "Essas situações
pedem muita força", diz Ana
Maria Massa, psicóloga e coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp. "Em razão disso
tudo, o outro filho fica meio de
lado. Mas ele também está passando por um problema, que
pode não ser tão grave, mas que
ele não vai saber resolver." Ela
sugere que a família tente preservar o cotidiano e, quando
possível, saia para passear, traga visitas, tome um lanche junta. "A vida está aí para aproveitar, ainda mais nessa situação."
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