São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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CLARICE MONTEIRO GIGLIO (1901-2008)

A memória de um século e sete anos

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Clarice Monteiro Giglio com certeza saberia dizer quantos descendentes deixou. Tinha a memória tão boa e cheia de histórias que, da última vez em que o filho a visitou, levou um gravador para registrar a conversa.
Os tataranetos são fáceis de contar: três. Com netos e bisnetos, a tarefa é árdua, mas a família chuta algo entre 23 e 16, respectivamente.
Dos 11 filhos, apenas cinco estão vivos. Alguns podem até ser agrupados conforme o nome: Ilady, Sady, Iray, Itagy e Jocy. Mas não só de "y" se fizeram os filhos. Houve também Milton e Mirtes.
Clarice viveu tão lúcida por 107 anos que se recordava até de Guilhermina, Constantina, Amância e Eugênia, escravas libertas que lhe bateram à porta de casa, quando ainda morava na cidade natal de Jacupiranga, a 218 km de São Paulo, para lhe pedir mingau de trigo.
Filha de um comerciante português, casou-se com Ângelo, um professor de música -que depois tornou-se também comerciante em São Paulo. O namoro começou com troca de bilhetinhos.
Temerosos dos soldados que ocuparam a cidade durante a Revolução de 32, refugiaram-se num sítio.
Em 1972, ficou viúva. O que mais queria, dizia, era não ver os filhos morrerem.
No começo do ano, fizeram-lhe festa de aniversário. No ano que vem, planejava ela mesma fazer a festa para a família, para agradecê-los.
No domingo, morreu em São Paulo, de "velhice".

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