São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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Incêndio de 2006 em fundação é investigado

Parte da documentação contábil da Fundação Vanzolini foi destruída no fogo; Ministério Público apura se houve queima de provas

Instituição foi alvo de um esquema de desvio de verbas que provocou rombo de R$ 5,4 milhões entre os anos de 2006 e 2008

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um incêndio ocorrido na Fundação Vanzolini no final de 2006, visto na época como uma ação de vândalos durante um furto, é investigado agora como uma possível queima de provas do esquema de desvio de recursos montado por funcionários dentro da instituição.
A fundação é uma instituição privada, criada nos anos 60 pelos professores da Politécnica da USP para apoiar as pesquisas da universidade. Conforme a Folha revelou ontem, ela foi alvo de um esquema de desvio de verbas realizado por ex-funcionários que provocou um rombo de R$ 5,4 milhões entre os anos de 2006 e 2008.
Para maquiar a saída de dinheiro, de acordo com ação da Promotoria, os ex-funcionários utilizavam notas fiscais falsas e, ainda, uma rede de 21 empresas "laranjas". Uma dessas empresas, a Presto, recebeu quase R$ 400 mil por consultorias prestadas à fundação. Também registrada como Recanto da Pesca, a Presto é uma loja especializada em "comércio de artigos de caça, pesca e camping".
De acordo com ação civil ajuizada pelo Ministério Público, parte da documentação contábil da Fundação Vanzolini foi destruída no incêndio.
"Dados os acontecimentos discutidos na presente demanda [ação civil], pode-se até cogitar que o incêndio tenha ocorrido dolosamente [de maneira intencional], para encobrir a fraude que estava sendo praticada", afirma trecho do documento assinado pelo promotor Airton Grazzioli, da Curadoria de Fundações.
Procurado durante dois dias pela Folha, Grazzioli disse que não pode comentar o assunto porque o caso está "sub judice".
Esse incêndio coloca em dúvida se o valor desviado foi ainda maior. Até porque o principal suspeito de coordenar a fraude na fundação, o então gerente financeiro Luiz Roberto de Pierre, assumiu o cargo em 2004, ficando por cerca de quatro anos -saiu em 2008.
Até agora, a suspeita está concentrada entre os anos de 2006 a 2008, período em que as auditorias encontraram os supostos desvios. Os documentos destruídos estavam em um prédio da fundação que ficava na Lapa (zona oeste da capital), mas hoje está desativado.
O presidente da diretoria-executiva da fundação, Mauro Zilbovicius, disse que na época foram feitos boletins de ocorrência e que as "causas imediatas" apontavam para um assalto, "durante o qual os assaltantes atearam fogo em uma edícula do prédio".
"Foi feito boletim de ocorrência à época, e mais nada se soube. [...] Na medida em que documentos foram destruídos, é possível estabelecer a conexão [da possível destruição de provas], mas a investigação ocorrerá, agora, no âmbito da Justiça", disse ele, por e-mail.
Mesmo com a queima de parte dos documentos, o presidente da fundação diz não haver possibilidade de outros desvios além dos apontados pelas auditorias. Ele assumiu o cargo para o biênio 2008/2009.
Na última segunda-feira, Luiz Roberto de Pierre disse à Folha que desconhecia o processo e que indicaria um advogado para falar com a reportagem, o que não aconteceu. Na tarde de ontem, o ex-gerente financeiro não foi localizado.


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