São Paulo, quarta-feira, 08 de novembro de 2000

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Invasões atingiram o ápice no ano passado

DA REPORTAGEM LOCAL

As invasões de prédios pelos sem-teto, em São Paulo, se começaram em 1997, diminuíram um pouco em 1998 e atingiram o ápice no ano passado. Este ano, foram invadidos um prédio, no último sábado, e um terreno da Secretaria de Estado da Segurança Pública, na manhã de ontem.
As informações são da UMM (União de Movimentos de Moradia), que congrega os principais grupos de sem-teto da cidade.
Em 97, foram invadidos cinco prédios, dos quais quatro ainda estão ocupados por 411 famílias. No ano seguinte, foram duas invasões, um prédio já foi desocupado, e outro abriga 45 famílias.
No ano passado, foram invadidos sete prédios, dos quais seis permanecem com 2.570 famílias. A única reintegração de posse ocorreu no antigo prédio do Banco Nacional, na rua Líbero Badaró, e resultou em um conflito de cerca de seis horas entre os sem-teto do MMC e a tropa de choque, da Polícia Militar.
Segundo os sem-teto, as invasões são planejadas de acordo com a demanda. "De repente, de setembro para cá, os despejos começaram a surgir como baratas do esgoto, no verão", diz Solange Carvalho, do MSTC.
"Para a maioria dos movimentos, a invasão não é um fim em si. É um meio de pressionar o poder público", afirma Evanisa Rodrigues, da UMM.

Como virar sem-teto
O processo para ingressar em um dos movimentos é relativamente simples. Além de não ter moradia, o candidato a sem-teto tem de, primeiro, procurar uma das facções, que podem ser encontradas nos prédios invadidos.
Outra solução indicada pelos sem-teto é procurar uma igreja onde haja um representante da Pastoral da Moradia.
O candidato é convidado a preencher um cadastro. Após esse processo, ele é obrigado a participar das reuniões dos movimentos. Contribuições em dinheiro não são obrigatórias, mas em casos de invasão são necessárias.
"Os integrantes do movimento têm de arcar com as despesas de água, luz, manutenção e vigilância dos prédios invadidos", diz Lisete Gomes das Neves, do MSTC.

Disputa
As subdivisões entre os sem-teto acabaram gerando uma espécie de disputa pelos prédios vazios do centro. Segundo uma relação única entre os movimentos, há cerca de 70 edifícios abandonados na região central de São Paulo.
Quem invadir primeiro, ganha. Por isso, há situações como a vivida no prédio da rua Fernão Dias, reformado por meio do PAR. Lá, os sem-teto que receberão as chaves da Caixa ficam acampados para impedir que outros sem-teto invadam o mesmo imóvel.
Segundo a Caixa, o prédio invadido no último sábado, na avenida Duque de Caxias, por integrantes do MSTC, estava em processo de negociação entre os proprietários, do Grupo Savoy, e os sem-teto do MMC. "Nós só ficamos sabendo disso depois", afirma Solange Carvalho.


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