São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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SEGURANÇA

Presidente de entidade, único estabelecimento a não fechar as portas, diz que foi ameaçado e que havia "olheiros" no local

"Foi ordem do comando", afirma sindicalista

DA REPORTAGEM LOCAL

Aviso na madrugada, cinco telefonemas durante o dia, um diretor cercado por olheiros na rua e ameaças feitas por homens que passaram em frente ao prédio. Apesar da pressão, o Sindicato dos Empregados da Construção Civil foi o único estabelecimento que se negou a obedecer ao toque de recolher imposto em quatro ruas do bairro do Glicério, no centro de São Paulo.
A pressão começou às 5h30 de ontem. O presidente do sindicato, Antonio de Sousa Ramalho, foi acordado por uma ligação no seu telefone celular. Um homem não-identificado afirmava que a cerimônia de posse da nova diretoria, prevista para ser realizada ontem pela manhã, deveria ser suspensa por causa da morte de dois homens, anteontem, em confronto com a Polícia Militar.
O tom ainda era de pedido, mas Ramalho, sindicalista ligado à Força Sindical, disse que não iria obedecer. Durante o dia, telefonemas para a sede do sindicato, na rua Conde de Sarzedas, já ameaçavam com represálias.
Um diretor foi cercado por homens quando chegava à sede do sindicato pela manhã. Ele foi questionado sobre o motivo por que a entidade não seguia os outros estabelecimentos comerciais e baixava as portas e alertado de que o sindicado poderia sofrer represálias quando a polícia deixasse de monitorar o local.
"Eles falaram que o toque de recolher era ordem do comando [como também é chamado o PCC" e que haveria represálias se ela não fosse cumprida", afirmou o sindicalista.

Atendimento
A diretoria do sindicato chegou a se reunir à tarde para decidir se iria manter a sede aberta. A entidade atende aproximadamente 3.500 pessoas por dia -2.600 apenas no ambulatório médico. "Aqui é um sindicato, representa trabalhadores, e não vamos ceder a nenhuma organização criminosa", disse Ramalho.
Ele disse que viu vários olheiros andando pelas ruas para verificar se todos os comerciantes realmente fecharam as portas. Cerca de cem pequenos estabelecimentos seguiram o toque de recolher.
O presidente do sindicato disse que desconhecia as pessoas que foram presas e os dois mortos pela Polícia Militar, mas afirmou que pediu anteriormente reforço do policiamento à Secretaria da Segurança Pública por causa do grande número de assaltos na região. (GILMAR PENTEADO)


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