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ESTRADAS
Escritório de advocacia foi contratado sem licitação para defender entidade que fiscaliza setor de transporte; medida não é ilegal
Agência paga R$ 1,5 milhão a advogados
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Artesp (Agência Reguladora
de Serviços Públicos Delegados
de Transporte do Estado de São
Paulo), órgão criado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB)
em abril deste ano, contratou sem
licitação, em regime de emergência, um escritório de advocacia de
São Paulo por R$ 1,5 milhão, pelo
período de seis meses.
A responsabilidade do escritório é defender a Artesp nas ações
que foram movidas contra o DER
(Departamento de Estradas de
Rodagem), principalmente por
perueiros irregulares que buscavam liminares judiciais para fugir
da fiscalização. A contratação não
é ilegal.
A lei que criou a agência reguladora transferiu a responsabilidade de fiscalização do DER para a
Artesp e, com isso, a defesa dos
interesses do Estado nas ações
também foi transferida.
Até a criação da Artesp, o Estado era defendido nessas ações pelos 16 procuradores do DER, que
estão em todo o Estado e têm salário médio de R$ 5.000, de acordo
com o sindicato da categoria.
Segundo a Folha apurou, de 301
processos encerrados no período
em que o Estado era defendido
pela procuradoria do DER, o poder público só perdeu seis.
Apesar de transferir para a Artesp a responsabilidade pelos processos, a lei que criou a agência reguladora não transferiu os procuradores -que continuaram tendo trabalho no DER- nem previu um quadro próprio de procuradores para a Artesp.
Com a responsabilidade de defender o Estado e sem ter funcionários para isso, a agência teve de
fazer a contratação emergencial
por seis meses e fará licitação para
contratar outro escritório.
Contrato de emergência
Ao iniciar a procura pelo escritório de advocacia que iria contratar, a Artesp mandou cartas para
três grandes bancas de advogados: Pinheiro Neto, Rubens Naves
e Carvalho de Freitas.
O objetivo da agência era encontrar um escritório capaz de assumir imediatamente todos os
668 processos e com capacidade
de defendê-la em ações movidas
em qualquer cidade paulista.
O escritório Pinheiro Neto pediu R$ 250 mensais por ação, mais
R$ 50 por mês para cada ação que
corre fora da cidade de São Paulo.
Afirmou também que o contrato
deveria prever um mínimo de mil
ações.
O escritório Rubens Naves pediu R$ 90 por ação que corre na
capital paulista, mas declarou que
não teria condições de acompanhar as ações que correm no interior do Estado.
Nessas ações, o escritório, por
R$ 20, poderia apresentar petição
para que fossem transferidas para
a capital. Caso o pedido fosse negado, o escritório sugeriria à
agência a contratação de outro
advogado na cidade em que a
ação foi proposta.
Em 20 de setembro de 2002, a
Artesp assinou um contrato com
o escritório Carvalho de Freitas e
Ferreira Advogados Associados,
que prevê o pagamento de R$ 250
mensais por processo.
Atualmente, a Artesp sofre 812
ações judiciais.
O preço é menor que o oferecido pelo escritório Pinheiro Neto e
o escritório se comprometeu a
atuar em todas as cidades.
O escritório contratado, no entanto, não é especializado em direito administrativo nem em
transportes. O escritório foi consultado por ter experiência em
processos contenciosos e pelo fato de advogar para a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), uma agência reguladora, assim como a Artesp.
Sob o compromisso de não terem seus nomes revelados, advogados especializados em direito
administrativo disseram que aceitariam o contrato por até a metade do preço pago.
No começo deste ano, a Infraero
(Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) realizou
licitação na qual se dispunha a pagar menos de R$ 50 mensais por
processo.
"É um absurdo um serviço que
cabe ao Estado executar ser transferido a um escritório de advocacia", afirma Vitore Maximiano,
presidente do Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e das Universidades Públicas do Estado de
São Paulo. De acordo com Maximiano, a defesa do Estado poderia ser feita pelos procuradores do
DER ou pela Procuradoria Geral
do Estado.
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