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Ministros do STF discordam sobre lei
da Sucursal de Brasília
O STF (Supremo Tribunal Federal) chegará dividido a um eventual julgamento sobre a constitucionalidade da lei de doação.
Dois ministros ouvidos pela Folha, que pediram que não fossem
identificados, consideram que não
há inconstitucionalidade no texto,
já que a lei prevê a possibilidade de
a pessoa manifestar vontade em
contrário.
Já o ministro Marco Aurélio de
Mello acha que a lei não pode ignorar a tradição e a cultura nacionais. "Tradicionalmente, a disponibilidade do corpo é da família. O
Estado não tem a titularidade do
corpo. O direito natural é da família."
Marco Aurélio, que ainda não
tem uma posição final sobre o assunto, considera que, se o texto
partisse da presunção de que são
doadoras as pessoas que especificaram essa vontade, não haveria
dúvidas quanto à constitucionalidade da nova lei. As dúvidas, para
ele, surgem do fato de a lei partir
"do ato omissivo".
"O desejável seria um trabalho
junto à população, de esclarecimento, que chegasse à indução,
que levasse as pessoas a se declararem doadoras. O problema no
Brasil é cultural. Muitas pessoas,
principalmente nas classes mais
baixas, não têm segurança sobre o
que significa morte cerebral. Você
não pode levar os familiares à angústia da dúvida sobre se o parente
está mesmo morto enquanto seus
órgãos são retirados."
Os outros dois ministros consideram que a Constituição garante
o direito à vida. A partir do momento em que a medicina diz que a
morte cerebral é irreversível, não
haveria mais vida que a lei pudesse
garantir.
Para ele, a polêmica em torno do
assunto está baseada na ética dos
médicos, contrários à retirada de
órgãos sem o consentimento dos
familiares do morto. E acrescentou: os médicos que defendem
ações contra a nova lei estão confundindo ética com constitucionalidade.
(FLÁVIA DE LEON)
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