São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2000


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Neonazistas usam Haider para dar folga aos pés

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Assisti à queda do muro de Berlim sentada na frente da TV, na companhia de meu pai e de minha mãe. Enquanto eu exultava, meus pais permaneciam imóveis. Ao final da transmissão, minha mãe, uma italiana providencialmente loquaz, só conseguiu dizer: "Vai começar tudo de novo". Meu pai nem precisou balançar a cabeça. Sua expressão não deixava dúvidas de que ele concordava.
Já conversei com um zilhão de pessoas cujos pais também sobreviveram à Segunda Guerra. Todos concordam em um ponto: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que ouvir dos genitores relatos espontâneos sobre as experiências vividas naqueles anos terríveis.
Sei por alto que, depois de Hitler mandar Mussolini às favas, meu pai foi feito prisioneiro pelos alemães. Minha mãe viu um primo, da mesma idade que ela, ser morto a tiros na sua frente.
A reação de minha mãe diante da reunificação da Alemanha, que a CNN exibiu naquele novembro de 1989 em tom festivo, pode parecer extremada para aqueles que vêm a Europa apenas pela ótica dos livros.
Na vida real, porém, o berço da filosofia, do Renascimento e do Iluminismo é também um celeiro de intolerância, onde as "diferenças" de quem vive a 15 km de distância, observadas nos costumes, no dialeto ou até, pasme, em uma nuance qualquer da caligrafia podem gerar conflito.
Como ítalo-brasileira, aprendi desde cedo que há algo de podre na Europa. No decorrer dos anos 70, na Suíça, mais de uma vez minha família sofreu agressões pelo simples fato de circular em um automóvel com placas da Itália. Certa feita, três rapazes em uma van quase forçaram a queda do nosso carro ribanceira abaixo, aos gritos de "italianos porcos! Parem de tirar nossos empregos!"
Ilude-se quem pensa que o líder do Partido da Liberdade da Áustria, Joerg Haider, seja fato isolado. Na França, Haider atende pelo nome de Jean-Marie Le Pen, o demagogo que encontra justificativas até para a profanação de túmulos judeus. Na Suíça, ele se chama Schwarzenbach, o deputado que queria expulsar todos os estrangeiros. E, na Inglaterra e na Alemanha, aquela juventude de cabeça raspada dispensa qualquer apresentação.
Só queria ver o que aconteceria com a versão tapuia dos skinheads, que assassinou o adestrador de cães na praça da República, aparentemente para se jubilar com a eleição do partido de Haider, se eles caíssem na mão dos verdadeiros skinheads europeus.

QUALQUER NOTA

Inveja mata
Não adianta. O Edmundo pode ser o maior craque, mas não consegue mesmo se livrar do ridículo. Alô, Edmundo! Para seu governo, Pelé, o melhor jogador de futebol de todos os tempos, nunca foi capitão. Nem do Santos e nem da seleção brasileira.

Aviso aos navegantes
Tudo indica que, neste ano, torcer por Rubens Barrichello deve continuar sendo um exercício zen-budista de paciência. Não custa lembrar que os torcedores de Mika Hakkinen passaram pelo mesmo calvário antes de ver o finlandês se tornar bicampeão.

Feiúra e descaso
Não se sabe o que é pior: ver o Minhocão ou ver o Minhocão desabar por conta do cupim.


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