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Neonazistas usam Haider para dar folga aos pés
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Assisti à queda do muro de Berlim sentada na frente da TV, na
companhia de meu pai e de minha mãe. Enquanto eu exultava,
meus pais permaneciam imóveis.
Ao final da transmissão, minha
mãe, uma italiana providencialmente loquaz, só conseguiu dizer:
"Vai começar tudo de novo". Meu
pai nem precisou balançar a cabeça. Sua expressão não deixava
dúvidas de que ele concordava.
Já conversei com um zilhão de
pessoas cujos pais também sobreviveram à Segunda Guerra. Todos
concordam em um ponto: é mais
fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que ouvir
dos genitores relatos espontâneos
sobre as experiências vividas naqueles anos terríveis.
Sei por alto que, depois de Hitler
mandar Mussolini às favas, meu
pai foi feito prisioneiro pelos alemães. Minha mãe viu um primo,
da mesma idade que ela, ser morto a tiros na sua frente.
A reação de minha mãe diante
da reunificação da Alemanha,
que a CNN exibiu naquele novembro de 1989 em tom festivo,
pode parecer extremada para
aqueles que vêm a Europa apenas
pela ótica dos livros.
Na vida real, porém, o berço da
filosofia, do Renascimento e do
Iluminismo é também um celeiro
de intolerância, onde as "diferenças" de quem vive a 15 km de distância, observadas nos costumes,
no dialeto ou até, pasme, em uma
nuance qualquer da caligrafia podem gerar conflito.
Como ítalo-brasileira, aprendi
desde cedo que há algo de podre
na Europa. No decorrer dos anos
70, na Suíça, mais de uma vez minha família sofreu agressões pelo
simples fato de circular em um
automóvel com placas da Itália.
Certa feita, três rapazes em uma
van quase forçaram a queda do
nosso carro ribanceira abaixo,
aos gritos de "italianos porcos!
Parem de tirar nossos empregos!"
Ilude-se quem pensa que o líder
do Partido da Liberdade da Áustria, Joerg Haider, seja fato isolado. Na França, Haider atende pelo nome de Jean-Marie Le Pen, o
demagogo que encontra justificativas até para a profanação de túmulos judeus. Na Suíça, ele se
chama Schwarzenbach, o deputado que queria expulsar todos os
estrangeiros. E, na Inglaterra e na
Alemanha, aquela juventude de
cabeça raspada dispensa qualquer apresentação.
Só queria ver o que aconteceria
com a versão tapuia dos skinheads, que assassinou o adestrador de cães na praça da República, aparentemente para se jubilar
com a eleição do partido de Haider, se eles caíssem na mão dos
verdadeiros skinheads europeus.
QUALQUER NOTA
Inveja mata
Não adianta. O Edmundo pode
ser o maior craque, mas não consegue mesmo se livrar do ridículo.
Alô, Edmundo! Para seu governo,
Pelé, o melhor jogador de futebol
de todos os tempos, nunca foi capitão. Nem do Santos e nem da seleção brasileira.
Aviso aos navegantes
Tudo indica que, neste ano, torcer por Rubens Barrichello deve
continuar sendo um exercício
zen-budista de paciência. Não
custa lembrar que os torcedores
de Mika Hakkinen passaram pelo
mesmo calvário antes de ver o finlandês se tornar bicampeão.
Feiúra e descaso
Não se sabe o que é pior: ver o
Minhocão ou ver o Minhocão desabar por conta do cupim.
E-mail barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/
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