São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2004

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No sertão do Piauí, caatinga se transforma em pantanal

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PIAUÍ

A chuva que atinge o Nordeste transformou uma das áreas mais secas do país, o semi-árido do Piauí, em um imenso alagado. Valas deram lugar a rios caudalosos, e a caatinga virou pantanal.
Em pleno sertão, municípios que até dezembro conviviam com decretos de emergência por causa da seca passaram a depender de barcos e helicópteros para socorrer a população.
Pelo menos 11 das 223 cidades piauienses estavam isoladas na semana passada, sem acesso por terra. Até sexta-feira, 81 prefeituras haviam decretado emergência devido à chuva. Outras seis estavam em calamidade pública.
O último levantamento da Defesa Civil, divulgado no dia 4, com dados de apenas 30 municípios, apontava a existência de 91.802 pessoas atingidas. Desse total, 32.840 foram obrigadas a deixar suas casas devido às enchentes. A força da água havia destruído 1.719 residências em 31 cidades e danificado outros 6.084 imóveis em 36 localidades.
Na região de Picos, cidade-pólo do sertão do Estado (a 306 km ao sul de Teresina), a chuva fez renascer e revigorou rios não-perenes, como o Guaribas e o Itaim, que cortam a região.
A água, esperada há meses, veio em excesso. Em poucos dias, os rios transbordaram, e até os abrigos provisórios de flagelados foram inundados.
Cidades vizinhas a Picos, como Itainópolis e Santa Cruz do Piauí, ficaram isoladas por terra. Em Oeiras, o cemitério alagou.
Segundo o prefeito de Itainópolis e presidente da Associação de Prefeitos do Piauí, José Maia Filho (PFL), foi a maior cheia desde 1960. Cerca de 80% da área do município, que tem 10 mil habitantes, foi inundada. Mil ficaram desabrigados. O alagamento aconteceu tão rapidamente que Maia Filho só teve tempo de revogar o decreto de emergência da seca quando mais da metade da cidade já estava submersa.
A Defesa Civil do Piauí não tem registro de chuva com igual intensidade no mês de janeiro como a que atingiu o Estado neste ano, principalmente no semi-árido.
Segundo Expedito Soares, assessor técnico da entidade, em algumas localidades na área de Picos foram registrados até 700 mm de chuva no mês -quase quatro vezes mais que o normal.
Um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado de superfície.
Em 55 municípios piauienses foram registradas quedas de pontes e destruição parcial de estradas federais ou estaduais.
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), estimou em R$ 16 milhões o prejuízo só no setor de transportes.


A reportagem sobrevoou regiões alagadas a bordo de um helicóptero do Exército que estava a serviço do governo do Piauí.


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