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DE CAMAROTE
O que acontece após o frenesi?
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
E agora, que o Carnaval acabou?
O clima hoje ainda continua, com
a apuração dos desfiles das escolas de samba; enquanto uns vão
chorar, dizer que houve roubo e
injustiça -todo ano é igual-,
outros vão comemorar na quadra
da escola. Mas, a partir de amanhã, como vai ser a vida dos que
se prepararam durante meses para desfilar na avenida, indo aos
ensaios, escolhendo a fantasia, caprichando no samba, sem pensar
em outra coisa?
Sempre tive uma grande curiosidade de saber quem são as moças lindas que aparecem na avenida sambando de biquíni, outras
totalmente à vontade com os peitos de fora. As escolas são muitas,
elas são muitas. O que fazem durante o ano? Talvez sejam comerciárias, ou trabalhem em escritório, talvez sejam manicures, cabeleireiras, talvez tenham um namorado -um marido, será?
Mas, depois que acaba o frenesi
do Carnaval, a vida, para elas, deve ficar muito monótona. A distração passa a ser ver novela, uma
biribinha aos sábados; mas como
conseguem, depois de toda aquela empolgação? Porque não se trata de uma empolgação de uma
hora, mas de meses, quando começam os preparativos.
Quando se vive grandes emoções, é sempre difícil voltar ao
normal, e as do Carnaval são difíceis de esquecer. Tem a música
para lembrar, as revistas, para ver
se saiu uma fotinho, e tem as fantasias que sobram.
Sempre tive curiosidade de saber o que é feito das fantasias
imensas, dos arranjos de pena,
dos escudos dourados, dos biquínis cobertos de pedrarias. Para o
próximo Carnaval nada vai ser
aproveitado, e duvido que alguém
consiga jogar tudo no lixo.
Por outro lado, não existe casa
com um quarto vazio, sobrando,
para guardar as lembranças de
uma noite inesquecível. Dar de
presente? Mas para quem? E os
imensos carros alegóricos, com
dragões soltando fogo pelas narinas, o que fazem com eles?
É triste saber que tudo vai desaparecer -como não sei, mas
vai-, mas dá para pensar também que aquele espetáculo que
mobilizou tanta gente durante
tanto tempo foi feito mesmo para
durar apenas uma noite, e depois
não se pensar mais nisso. E todos
os anos vai ser igual, sem sentimentalismos nem saudades.
Não sei por que, me vieram à cabeça aquelas histórias de antigamente, das moças que quando recebiam uma flor do namorado
marcavam páginas do livro com
uma pétala, para nunca esquecer
desse dia. Havia caixas com a grinalda da noiva -o que se faz com
uma grinalda usada, aliás?-, o
buquê e até o primeiro dentinho
de leite que caía do filho. Para começar, qual namorado oferece
uma flor? Quem se casa de vestido
de noiva e grinalda? Quem percebe que o dentinho do filho está
mole e vai cair? Seguramente, não
as que desfilam na avenida.
Mas devo estar louca de pensar
nessas coisas, sobretudo hoje. O
lance é ficar grudada na televisão
para saber qual a escola campeã, e
começar a pensar no Carnaval do
ano que vem.
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