São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2005

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CARNAVAL

Império de Casa Verde, que não era considerada favorita, foi a vencedora; escola investiu R$ 2,5 milhões na apresentação

Disputa em SP acaba em briga e surpresa

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO MAZZITELLI
DO "AGORA"

As torcidas das escolas aplaudiam calmamente quando foi anunciada a primeira e inesperada vitória da Império de Casa Verde no Grupo Especial do Carnaval de São Paulo.
Enquanto isso, do outro lado do sambódromo, ala da "elite" do samba, dirigentes das agremiações e funcionários da Liga Independente das Escolas de Samba começavam uma pancadaria que deu um fim melancólico à festa.
Ninguém se feriu gravemente ou foi preso, mas houve empurra-empurra, pessoas foram jogadas ao chão e mesas quebradas. Um integrante da diretoria da Império recebeu um soco na boca, depois de embate com um representante da Unidos de Vila Maria, que ficou em quarto lugar.
A vencedora não estava nas listas de favoritas. Investiu pesado para para a vitória, R$ 2,5 milhões, valor que é quase o dobro da média de gastos de todas as escolas paulistanas, R$ 1,5 milhão (veja nesta página).
"Respeito o resultado. Mas fomos punidos por ser a escola que tem mais samba", disse Alberto Alves da Silva, presidente da Nenê de Vila Matilde, que ficou em nono lugar, apesar de ser considerada uma das favoritas. "Eles [os jurados] pegaram o belo e lúdico e deixaram a essência."
Com dez anos de Carnaval, a Império de Casa Verde falou do papel do Brasil na globalização na avenida, com o enredo "Brasil, se Deus é por nós, quem será contra nós?". Usou alegorias luxuosas, como uma nave espacial e tigres, animal-símbolo da escola, no carro abre-alas, um dos maiores da história do Carnaval. Homenageou, na letra e nas alegorias, por meio de uma estátua, o ex-presidente da escola, Francisco Plumari Júnior, acusado de envolvimento com o jogo do bicho e assassinado em 2003.
No Rio, a homenagem a bicheiros já rendeu polêmica. O deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) pediu que o Salgueiro e a Mocidade Independente de Padre Miguel sejam investigados por apologia ao crime nos desfiles de domingo.
Plumari Júnior também foi investigado por suspeita de ter mandado matar um suposto rival em 1994, caso em que foi absolvido quatro anos depois.

Torcidas liberadas
A Gaviões da Fiel -cuja torcida lotou a parte superior do Sambódromo- e a Unidos do Peruche subiram ao Grupo Especial.
O artigo 46 do regulamento do Carnaval de São Paulo não permite a escolas de samba oriundas de torcidas organizadas desfilar juntas no Grupo Especial -o que pode afetar diretamente a Gaviões, corintiana, e a Mancha Verde, da torcida do Palmeiras, 12º lugar no Grupo Especial ontem. As duas agremiações discordam da regra.
O promotor de Justiça Fernando Capez, que ajudou a criar o artigo, no entanto, "liberou" ontem a permanência das duas escolas no Grupo Especial, mas a decisão final só deve ocorrer em junho, em uma reunião da Liga. A única restrição aconselhada pelo promotor é escalar Mancha e Gaviões para dias diferentes de desfile.
Nenhuma das escolas de torcidas organizadas, no entanto, esteve envolvida na confusão de ontem, que começou quando o presidente da Vai-Vai, Solon Tadeu Pereira, escola que pegou o quinto lugar, seguia para a grade que separava os dirigentes das escolas dos integrantes da Liga, como o presidente Robson de Oliveira.
Pereira disse que queria cumprimentar Oliveira, e não falar do resultado, que deixou a diretoria da Vai-vai revoltada -a escola perdeu pontos principalmente na evolução, onde levou dois noves, suas menores notas.
Um segurança da Liga teria empurrado o dirigente da Vai-Vai e começado a pancadaria. Na versão do coordenador operacional da Liga, Breda dos Santos, o segurança apenas pediu para que Pereira não se aproximasse, quando o filho do dirigente da Vai-Vai teria empurrado o segurança -ele e outro envolvido na confusão foram afastados por Santos.
"Nós vamos pegá-lo. É um otário, segurança despreparado. Se me agredisse eu ia jogar bomba aqui dentro", afirmou Pereira, que chegou a cair no chão.
Um total de 300 policiais estava no sambódromo -a tropa de choque interveio na briga.
De acordo com Caio Luiz de Carvalho, presidente da Anhembi, empresa do município responsável pelo Carnaval, que assistiu ao tumulto, houve excesso dos seguranças da Liga. "Isso é como jogo de futebol, tudo é paixão. Mas foi um Carnaval de paz", afirmou.
O presidente da Liga disse que abrirá uma sindicância sobre a confusão. Ele ficou protegido da briga principalmente por causa de cinco "seguranças" -Thor, Zaira, Killer, Uzi e Tyson, cães da raça pitbull postos em alerta na hora do tumulto.


Colaborou GILMAR PENTEADO, da Reportagem Local


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