São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Cidade tem 30 pontos crônicos de alagamento

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A cidade de São Paulo tem pelo menos 30 regiões -entre ruas e avenidas- que sempre alagam em dias de chuva. São pontos de alagamento considerados crônicos pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), que chega a registrar mais de 600 durante todo o ano no município.
Em toda a temporada de chuvas, segundo o órgão, esses locais causam transtorno ao trânsito com necessidade de bloqueio parcial ou mesmo total. O CGE não divulga a quantidade de vezes que cada um desses pontos alagou nos últimos anos, mas afirma que são problemas "históricos".
Dessa lista de 30 pontos, não há projeto nem previsão de obras para 12 deles. Em só um caso a prefeitura informou estar realizando obras. Um reparo na drenagem do cruzamento das avenidas Celso Garcia e Dr.Costa Valente (zona leste).
Segundo a prefeitura, em outras quatro regiões as obras estão em licitação; em duas, as obras foram suspensas para correção do projeto e em outra há projeto, mas ainda não foi feita a concorrência pública.
Em dez pontos, a prefeitura afirma conseguir resolver o problema de alagamento com a limpeza de rios e bocas-de-lobo (veja quadro nesta página com todos os 30 pontos).
O levantamento foi feito a partir do cruzamento dos dados do CGE e da Secretaria Municipal de Infra-Estrutura Urbana e Obras, responsável pela organização dos projetos de obras viárias. As informações foram solicitadas aos órgãos pela Folha.

"Extremamente caras"
As obras para oito dessas regiões são consideradas pela Secretaria de Infra-Estrutura como "caras" ou "extremamente caras". Não há nem mesmo um valor exato. É tratado como na casa dos bilhões de reais. A pasta tem cerca de R$ 500 milhões anuais para investimentos.
Um exemplo desses locais críticos é o cruzamento das ruas Amarantina e Conchila, zona norte da cidade. "Obra enorme e onerosa. Depende da desapropriação de 6 km de ruas, com casas. [A solução está] Em estudos", informa a secretaria ao ser questionada.
Em novembro de 2006, em meio a transtornos causado por fortes chuvas, o prefeito Gilberto Kassab (PFL) chegou a dizer praticamente o que os números revelam agora: que não via solução para as enchentes. "Desde a época de Anchieta, nos seus escritos, têm relatos de áreas da cidade inundadas", afirmou ele, que no dia seguinte amenizou a declaração.
O secretário de Infra-Estrutura, Marcelo Cardinale Branco, não quis dizer se Kassab estava certo ao afirmar não existir cura para as enchentes. Disse preferir trabalhar para tentar amenizar o problema a ficar discutindo se ele tem solução.
O secretário afirma que a solução é priorizar os locais onde há risco de mortes e, ainda, os que são mais nevrálgicos para o trânsito da capital.
Esse seria o caso da região do Vale do Anhangabaú, segundo ele, que teve sua obra anunciado no mês passado pelo prefeito. O local não tem enchentes desde de 2000.

Vaca foi pro brejo
Sem conhecer os números da prefeitura, o especialista em hidráulica e saneamento básico, João Francisco Soares, 63, afirmou considerar os problemas de alagamento em São Paulo algo praticamente sem solução. "O problema mãe é o uso e a ocupação do solo. Infelizmente, a vaca foi pro brejo."
Continuou: "Teria que remover população, coisas que são praticamente inviáveis. O homem destruiu os piscinões naturais. Agora, precisa gastar fortunas, milhões, para fazer piscinões artificiais. Olha que absurdo", afirmou ele.


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