São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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FAB apura se excesso de peso causou queda

Vice-presidente da Manaus Aerotáxi diz que a empresa "descarta totalmente" que havia excesso de passageiros na aeronave

Site da Anac diz que o avião, que tinha 26 passageiros, tem capacidade para 19; já o site da Manaus Aerotáxi informava que cabem 16

Danilo Mello/"Diário do Amazonas"
Escavadeira retira destroços do avião Bandeirante que caiu anteontem no rio Manacapuru

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O avião Bandeirante Emb-110, fabricado pela Embraer, que caiu anteontem no rio Manacapuru, na Amazônia, matando 24 pessoas (outras quatro sobreviveram), levava mais passageiros do que previa a capacidade máxima registrada para a aeronave na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). No final da manhã de ontem, o Corpo de Bombeiros de Manaus deu por encerradas as buscas por vítimas no local do acidente. Com a ajuda de uma balsa e um trator de esteira, a aeronave foi içada à superfície, onde peritos da Aeronáutica começaram a investigar as possíveis causas do acidente.
Os quatro sobreviventes -Ana Lúcia Reis Laurea, 43, Brenda Moraes, 21, e os irmãos Erick da Costa Liberal, 23, e Yan da Costa Liberal, 9- foram atendidos com escoriações leves no Hospital Regional de Manacapuru e liberados. O avião foi fretado pelo empresário Omar Melo Junior na agência L Tur, de Coari, e o voo era de responsabilidade da empresa Manaus Aerotáxi. Vinte e três pessoas eram convidadas de Junior para uma festa. Outros três passageiros embarcaram de última hora.
Considerando o piloto César Leonel Grieger, 47, e o copiloto Danilson Cirino Ayres da Silva, 23, havia 28 pessoas a bordo, das quais sete crianças, na contagem das equipes de resgate. Segundo a Aeronáutica, tanto o avião quanto a tripulação estavam com suas licenças em dia. O Cenipa, órgão da Aeronáutica que investiga acidentes aéreos, já apura se o excesso de peso contribuiu para a queda do avião. Foi o maior acidente aéreo do país desde a queda do avião da TAM, em 2007, que matou 199 pessoas.
O vice-presidente da Manaus Aerotáxi, Marcos Pacheco, diz que a empresa "descarta totalmente" que tenha havido problemas de sobrepeso ou superlotação na aeronave. Segundo ele, a agência de turismo informou que o voo teria oito crianças de colo [de até dois anos] e 18 passageiros sentados. "Criança de colo não conta como passageiro", afirmou o vice-presidente, que não se pronunciou sobre a capacidade total comportada pelo avião nem sobre a idade das crianças que estavam no voo. Para ele, fatores como o mau tempo ou uma possível falha no motor podem ter provocado a queda.
Brenda Moraes, 21, sobrevivente da tragédia, diz que havia crianças de oito e nove anos no colo de adultos. Uma portaria da Anac, de 2000, permite um acréscimo de 30% de passageiros crianças com até dois anos -neste caso seriam seis pessoas e não sete. Mesmo que todas as crianças tivessem até dois anos, o que não era o caso, o número é maior do que o permitido. No site da Anac está descrito que a aeronave tem capacidade para 19 passageiros. Já o site da Manaus Aerotáxi informava que cabem 16 -na noite de ontem, a página foi substituída por uma nota de pesar. A Anac não esclareceu o porquê da diferença. A Embraer, fabricante da aeronave, informou que cabe às autoridades de aviação determinar a capacidade do avião e que o total de passageiros depende de cada avião.
Especialista em aviação, o professor da UnB (Universidade de Brasília) Eider da Silva diz que o excesso de peso foi "um fator preponderante" para o acidente. "A potência dos motores é proporcional ao peso que o avião transporta. O avião tem uma reserva de potência, mas se o peso for muito maior do que o permitido e houver uma pequena perda de potência de motores o avião não consegue voar nivelado. Sem potência em um dos motores e com 28 passageiros ele não voa nivelado nem que São Pedro venha segurar o avião."
Para ele, a responsabilidade pelo transporte acima da capacidade é da empresa e do piloto. A Polícia Civil de Manacapuru começou ontem a ouvir moradores que testemunharam o momento da queda do avião. "O que ouvimos até agora é que o avião vinha baixo, chocou-se com copas de árvores de uma ilha do rio Manacapuru e depois mergulhou na água", disse o investigador Roberto Teles. Minutos antes do que parece ter sido uma tentativa de pouso forçado (o local do acidente fica a 500 m de uma pista de pouso abandonada), o piloto havia pedido à torre de Manaus permissão para retornar a Coari.
O modelo Bandeirante Emb-110 começou a ser fabricado em 1971 e deixou de ser produzido há 18 anos. A reportagem não localizou ontem nenhum representante da L Tur.

Colaboraram EDSON VALENTE , da Redação, e ANDREZA MATAIS , da Sucursal de Brasília


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