da Sucursal do Rio

O biólogo Mário Moscatelli deixou ontem o cargo que estava ocupando havia três meses na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, como gerente do programa de recursos naturais da lagoa Rodrigo de Freitas.
Moscatelli disse que estava sendo "punido pelo governo do Estado" porque criticava o trabalho da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) na lagoa.
"Não podia ser conivente com a quantidade de esgotos despejados na lagoa diariamente. É contra os meus princípios", afirmou. Para ele, criticar um órgão ao qual é vinculado é antiético. "Vou sair para poder dizer o que penso, sem causar constrangimento".
Moscatelli é o autor de um relatório, divulgado ontem pela Folha, informando a iminência do desastre antes que ele acontecesse e apontando locais de esgoto clandestino na lagoa.

Vontade política
O biólogo voltou a afirmar que os governos municipal e estadual sabem exatamente onde ocorrem as ligações clandestinas de esgoto. "Falta vontade política", disse.
Moscatelli acompanhou a reunião de ontem entre governo e prefeitura e saiu cético. "Eu já vi outras reuniões em que saímos todos de mãos dadas. O tempo passou, nada foi feito, e tudo se repetiu." Para o biólogo, a Cedae "mente" ao negar o despejo de esgoto. "Se a Cedae não joga esgoto na lagoa, então está chovendo cocô no Rio."
Moscatelli trabalha na recuperação dos manguezais da lagoa há 11 anos e participou das inspeções de áreas afetadas pelo vazamento de óleo na baía de Guanabara.
O biólogo acredita que a lagoa deverá recuperar sua fauna em seis meses. "Isso se não acontecer uma nova tragédia", disse.
O secretário estadual de Meio Ambiente, André Corrêa, disse que Moscatelli deveria continuar seu estudo na lagoa, mesmo sem vínculo com a secretaria.
Ele disse que já multou a Cedae em R$ 50 mil no ano passado, por causa de outra mortandade de quatro toneladas de peixes na lagoa. Segundo ele, a multa não foi paga. "Acho o valor da multa ridículo, e acho hipócrita o Estado multar a si próprio", afirmou.


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