São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2001

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RIO

Secretaria da Saúde denuncia casos de meninas que afirmam ter engravidado depois de manter relação sexual em bailes

"Grávidas do funk" preocupam prefeitura

Publius Vergilius/Folha Imagem
Baile funk em Jacarepaguá, no Rio; organizadores negam que ocorram relações sexuais durante as festas, como afirma a prefeitura


ANA WAMBIER
DA SUCURSAL DO RIO

A Secretaria Municipal da Saúde do Rio está denunciando casos de meninas que afirmam ter engravidado depois de manter relação sexual dentro de bailes funks. O mais grave, segundo a secretaria, é que as meninas nem sabem quem são os pais de seus filhos.
"A história é gravíssima e nos preocupa. Se for uma prática constante, a possibilidade de gravidez indesejada e de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, além da Aids, é uma coisa fantástica", afirma o secretário Sérgio Arouca.
De acordo com Viviane Castelo Branco, gerente do programa para adolescentes da secretaria, as garotas relatam às assistentes sociais que a nova diversão dos bailes funks é a chamada "dança das cadeiras".
A dança acontece, segundo o relato das meninas, numa área mais reservada do baile, que não é a pista central, onde fica a maioria das pessoas.
Nesse ambiente ficam dispostas cadeiras onde os rapazes se sentam. Quando toca a música, as meninas -que devem estar usando saia e muitas vezes não estão de calcinha- dançam numa roda em volta dos assentos.
No momento em que a música pára, elas sentam-se no colo de quem estiver à sua frente, mesmo que não saibam quem é o rapaz.
A partir daí, segundo o relato feito pelas jovens às assistentes sociais, as mulheres vão trocando de parceiro e eventualmente relações sexuais se concretizam.
Outra possibilidade de "brincadeira", conta Viviane Castelo Branco, são as chamadas "filinhas" ou "bonde". Meninos e meninas se alternam numa fila indiana dançando no movimento da música. As expressões corporais são eróticas e progridem para a relação propriamente dita.
O alerta foi dado na Secretaria de Saúde depois que M., com idade inferior a 14 anos e portadora do vírus HIV, disse ter engravidado num desses bailes, em janeiro.
"A secretaria trabalha com "fatos-sentinela'", explica o secretário Arouca. "Quando aparece um caso assim, ficamos em alerta. Para mim, é um caso de saúde pública e está sendo tratado como tal. Mas não podemos ter atitude repressiva. Temos que trabalhar na prevenção."
Embora a secretaria afirme que existam outros casos, não revela os nomes das meninas, suas idades e as comunidades onde moram, por temer que, se expostas, elas não façam mais o pré-natal.
"A exposição faz com que elas se retraiam. Se isso acontecer, nossas assistentes sociais não serão mais informadas sobre os novos comportamentos juvenis e não saberemos como agir", explica Viviane Castelo Branco.
Pessoas que frequentam os bailes negam que haja relações sexuais públicas durante a festa. "Eu vou a muitos bailes, mas nunca vi ou ouvi isso. Costumo frequentar os bailes de Austin e de Olinda com minhas amigas", diz Jaqueline Amarante, 16, grávida de sete meses -do namorado.
Mas o segurança Augusto Jorge, 27, que costuma trabalhar em bailes funks, diz que as relações sexuais em danças como a da cadeira ocorrem, até mesmo no palco.
"Muitos promotores de festas contratam mulheres para fazer o "show" (da dança da cadeira) e incentivar outras garotas a fazer o mesmo. Elas acabam topando. Nada é forçado", diz Jorge.
Os funkeiros Carlos Eduardo (ou Jone, como prefere), 29, e Cristiano Barriga, 28, que dão aulas de dança de rua nos bailes do Borel, na Tijuca (zona norte), negam que isso aconteça por lá.
"As músicas hoje estão mais sensuais mesmo, não há dúvida, mas o baile funk não é mais violento como foi. Tem mais integração, as pessoas da zona sul vêm aqui e se divertem como todos. É só isso", diz Barriga.


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