UOL


São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Tratamento depende da origem do problema e vai desde a retirada do açúcar da dieta até exercícios de reabilitação

Tontura pode ser causada por 300 doenças

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Treze de outubro de 2001 é uma data que a comerciante Eli Lopes, 60, não esquece. Nesse dia, ao acordar pela manhã, sentiu-se tonta, sem ter equilíbrio para levantar da cama. Em seguida, vieram os zumbidos no ouvido, os enjôos e os vômitos. Foi levada às pressas ao hospital, onde permaneceu internada por dez dias.
O diagnóstico foi uma crise de labirintite aguda. Desconfiada da avaliação do médico, Lopes decidiu procurar um outro profissional. Depois de uma batelada de exames, soube que tinha uma alteração no metabolismo do açúcar. Por recomendação do otorrinolaringologista, parou de comer doces e, desde então, nunca teve mais os sintomas.
A associação da tontura à labirintite, como no caso da comerciante, é bem frequente. Mas, na verdade, o que a maioria das pessoas chama de labirintite, pode ser sinal de pelo menos 300 distúrbios que afetam o labirinto, uma estrutura do ouvido interno responsável pelo equilíbrio do corpo. Essas doenças, chamadas de labirintopatias, são responsáveis por 85% dos casos de tontura.
Segundo Mário Sérgio Lei Munhoz, chefe da disciplina de otoneurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o importante é que a pessoa procure um otorrinolaringologista, profissional habilitado para fazer o diagnóstico e indicar o tratamento correto para a tontura.
"Não adianta insistir em medicamentos para tirar o sintoma se a causa não for atacada. É o mesmo que dar remédio para a febre sem saber o que a provocou", diz.
Em adultos, um dos distúrbios mais frequentes do labirinto é a doença de Ménière, a mesma que desencadeou a tontura na comerciante Eli Lopes.
Segundo o otorrinolaringologista Ricardo Ferreira Bento, professor da USP, essa doença pode ser causada por infecções virais, alergias, distúrbios do metabolismo do açúcar, entre outros.
Em razão dessas alterações, afirma o médico, há uma concentração de líquido dentro do labirinto e a pressão faz com que o paciente sinta o ouvido sempre tapado, além de provocar tonturas, náuseas e suor frio.
Outra doença bem recorrente entre os adultos que sofrem de tontura é a Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). Estruturas semelhantes a pedrinhas, localizadas nos canais semicirculares do labirinto, saem do lugar, prejudicando o equilíbrio.
O distúrbio pode ser causado por traumatismos, deficiências circulatórias, aumento do colesterol, entre outros.
"É o caso típico de pessoas que às vezes passam mal ao abaixar para pegar alguma coisa no chão", diz Munhoz.
Em alguns casos, segundo o otorrinolaringologista Edgard Rezende, do Hospital das Clínicas de São Paulo, em vez de tomar medicamento para o equilíbrio, é possível fazer exercícios de reabilitação do labirinto. São feitos alguns movimentos na cabeça do paciente para que as tais pedrinhas voltem ao lugar certo.
Foram esses exercícios que curaram a tontura que o estudante de direito Felipe Mastrocolla, 23, sentia após voltar de um coma de quase um mês. Em 2001, ele caiu de um muro de quatro metros e sofreu traumatismo craniano. Ao sair do hospital, sentia constantes crises de tontura e enjôos.
"Um mês depois dos exercícios, eu já estava ótimo, dirigindo carro", diz Mastrocolla.
As tonturas representam hoje a terceira maior queixa nos consultórios, só perdendo para as cefaléias e as dores nas costas, segundo Rezende.
Afetam pessoas de todas as idades, mas são mais predominantes entre as mulheres de 40 a 60 anos, possivelmente, em razão das oscilações hormonais.
Não há estatísticas do problema no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos EUA, 42% da população local está tendo ou já teve tontura, 17% sofrem ou já sofreram com zumbido e 13% têm alterações auditivas.


Texto Anterior: Dores faziam estilista perder os sentidos
Próximo Texto: Crianças também são afetadas por falta de equilíbrio
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.