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JUVENTUDE ENCARCERADA
Rebelião no complexo Raposo Tavares, em São Paulo, acaba com 3 funcionários e 4 menores feridos
Diretor vira refém em novo motim na Febem
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
Os internos da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor) promoveram ontem mais
um dia de fuga e rebelião na cidade de São Paulo. A ação dos adolescentes deixou o saldo de três
funcionários e quatro jovens feridos, além de uma unidade parcialmente destruída.
Neste ano, ocorreram 13 rebeliões em unidades da Febem na
capital paulista e na Grande São
Paulo. Outros dois motins foram
registrados no interior do Estado,
nas cidades de Ribeirão Preto e
Marília. No total, 457 adolescentes fugiram e 260 acabaram sendo
recapturados pela polícia.
Desta vez, os adolescentes das
unidades 27 e 28 do complexo Raposo Tavares, localizado na zona
oeste da capital paulista, se rebelaram durante três horas, depois de
uma tentativa de fuga em massa.
Dezessete funcionários -incluindo os diretores das duas unidades- foram mantidos reféns
pelos internos.
De acordo com a Febem, por
volta das 9h30 de ontem, 12 adolescentes da unidade 27 se dirigiam à escola profissionalizante
Byington, que tem uma parceria
com a fundação. No momento
em que o portão da unidade foi
aberto, outros 86 internos tentaram uma fuga em massa.
Os funcionários impediram a
fuga de 50 internos. Outros 36 escaparam, dos quais oito foram recapturados.
Os adolescentes que não fugiram iniciaram a rebelião: fizeram
12 funcionários reféns e invadiram a unidade 28, que também se
rebelou. Lá, os adolescentes fizeram mais cinco reféns.
A Polícia Militar foi chamada e
cercou o complexo Raposo Tavares. Os adolescentes rebelados subiram no telhado da unidade 28
para mostrar que tinham cinco
reféns. Entre eles estava o diretor
da unidade, Agnaldo Custódio da
Silva, e a diretora da unidade 27,
Sonia Fernandes Alves.
Os rebelados jogaram telhas nos
carros e queimaram colchões.
Negociação
A tropa de choque da Polícia
Militar foi chamada para conduzir as negociações com os adolescentes rebelados.
De acordo com a Febem, os internos queriam garantias de que
os adolescentes que acabaram
sendo recapturados pela polícia
não seriam transferidos.
O grupo de apoio, conhecido
como Choquinho, também negociou com os rebelados.
Ainda segundo a Febem, o presidente da fundação e secretário
estadual da Justiça e Cidadania,
Alexandre de Moraes (PFL), conversou com os internos por telefone e "acabou aceitando a solicitação dos rebelados, o que resultou
na libertação dos diretores e funcionários das unidades 27 e 28,
que ficaram como reféns".
A rebelião terminou por volta
das 12h30. Três funcionários ficaram feridos. Um deles foi atingido
com um golpe de estilete na perna. Segundo informações dadas
pela Febem, quatro adolescentes
tiveram ferimentos leves.
Represálias
As fugas e os motins, de acordo
com a instituição, aconteceram
depois do anúncio e da implantação das novas medidas propostas
por Alexandre de Moraes.
As principais foram a prisão de
funcionários acusados de torturar
adolescentes, a demissão de outros 1.751 funcionários e a contratação de educadores e de seguranças para as unidades consideradas
críticas, como as do Tatuapé e da
Vila Maria, ambas na capital.
Entidades de direitos humanos
apóiam a maioria das ações da
presidência da Febem. No entanto, elas são contra a chamada
"tranca coletiva" (quando os internos ficam trancados em seus
quartos como forma de castigo),
porque consideram essa medida
punitiva inconstitucional.
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