São Paulo, quarta-feira, 09 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUVENTUDE ENCARCERADA

Rebelião no complexo Raposo Tavares, em São Paulo, acaba com 3 funcionários e 4 menores feridos

Diretor vira refém em novo motim na Febem

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Os internos da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) promoveram ontem mais um dia de fuga e rebelião na cidade de São Paulo. A ação dos adolescentes deixou o saldo de três funcionários e quatro jovens feridos, além de uma unidade parcialmente destruída.
Neste ano, ocorreram 13 rebeliões em unidades da Febem na capital paulista e na Grande São Paulo. Outros dois motins foram registrados no interior do Estado, nas cidades de Ribeirão Preto e Marília. No total, 457 adolescentes fugiram e 260 acabaram sendo recapturados pela polícia.
Desta vez, os adolescentes das unidades 27 e 28 do complexo Raposo Tavares, localizado na zona oeste da capital paulista, se rebelaram durante três horas, depois de uma tentativa de fuga em massa. Dezessete funcionários -incluindo os diretores das duas unidades- foram mantidos reféns pelos internos.
De acordo com a Febem, por volta das 9h30 de ontem, 12 adolescentes da unidade 27 se dirigiam à escola profissionalizante Byington, que tem uma parceria com a fundação. No momento em que o portão da unidade foi aberto, outros 86 internos tentaram uma fuga em massa.
Os funcionários impediram a fuga de 50 internos. Outros 36 escaparam, dos quais oito foram recapturados.
Os adolescentes que não fugiram iniciaram a rebelião: fizeram 12 funcionários reféns e invadiram a unidade 28, que também se rebelou. Lá, os adolescentes fizeram mais cinco reféns.
A Polícia Militar foi chamada e cercou o complexo Raposo Tavares. Os adolescentes rebelados subiram no telhado da unidade 28 para mostrar que tinham cinco reféns. Entre eles estava o diretor da unidade, Agnaldo Custódio da Silva, e a diretora da unidade 27, Sonia Fernandes Alves.
Os rebelados jogaram telhas nos carros e queimaram colchões.

Negociação
A tropa de choque da Polícia Militar foi chamada para conduzir as negociações com os adolescentes rebelados.
De acordo com a Febem, os internos queriam garantias de que os adolescentes que acabaram sendo recapturados pela polícia não seriam transferidos.
O grupo de apoio, conhecido como Choquinho, também negociou com os rebelados.
Ainda segundo a Febem, o presidente da fundação e secretário estadual da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes (PFL), conversou com os internos por telefone e "acabou aceitando a solicitação dos rebelados, o que resultou na libertação dos diretores e funcionários das unidades 27 e 28, que ficaram como reféns".
A rebelião terminou por volta das 12h30. Três funcionários ficaram feridos. Um deles foi atingido com um golpe de estilete na perna. Segundo informações dadas pela Febem, quatro adolescentes tiveram ferimentos leves.

Represálias
As fugas e os motins, de acordo com a instituição, aconteceram depois do anúncio e da implantação das novas medidas propostas por Alexandre de Moraes.
As principais foram a prisão de funcionários acusados de torturar adolescentes, a demissão de outros 1.751 funcionários e a contratação de educadores e de seguranças para as unidades consideradas críticas, como as do Tatuapé e da Vila Maria, ambas na capital.
Entidades de direitos humanos apóiam a maioria das ações da presidência da Febem. No entanto, elas são contra a chamada "tranca coletiva" (quando os internos ficam trancados em seus quartos como forma de castigo), porque consideram essa medida punitiva inconstitucional.


Texto Anterior: Há 50 anos: Chanceler inglês não quer debater Formosa
Próximo Texto: Apoio a mudança tem ressalvas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.