São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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VIOLÊNCIA

Professores da Casa das Artes da Mangueira dizem que ritmo do morro foi drasticamente alterado com Exército

"A favela está vazia", afirma voluntário

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Um dos principais projetos sociais da favela, a Casa das Artes da Mangueira está "deserta" desde o início da ocupação do morro pelo Exército.
Ontem, o centro, que atende cerca de 200 famílias do morro, contou com a presença de apenas uma aluna, que teve que voltar para casa sem aula de dança.
Desde segunda, cerca de 500 militares do Exército ocupam a favela em busca das armas que foram roubadas na sexta de um quartel em São Cristóvão, bairro vizinho à favela.
"Ninguém está saindo de casa desde segunda. É impossível trabalhar num clima desse", disse Sueli de Lima, coordenadora da entidade, que atua há seis anos nas áreas de educação e cultura.
Ontem, os soldados permaneceram no morro. Eles fizeram barreiras próximas à entrada da favela. Na noite anterior, traficantes iniciaram um tiroteio deixando o clima ainda mais tenso. Nas escolas, o movimento foi menor que o normal.
"A entrada do Exército é desrespeitosa. A favela é um espaço de vida, onde as pessoas estudam, trabalham. Se 1% da população daqui está envolvida com crimes, acho que toda a comunidade não pode pagar por isso", disse a coordenadora.
"Não dá para entender como o Exército não usa a inteligência, só coloca formiguinhas [soldados] para subir o morro. Quantas crianças estão sem estudar? Pais também não estão indo trabalhar por causa dessa operação. Esse prejuízo, com certeza, é bem maior do que as dez armas perdidas", afirmou.

Do Carnaval à guerra
O fotógrafo Gilson Lessa, 44, não trabalhou ontem na Casa das Artes. Nenhum dos seus 20 alunos apareceu para a aula de fotografia. ""Essa imagem do caminhão apontado para a comunidade assusta muito. A favela está vazia. Não se vê quase ninguém nas ruas", disse Lessa, que nasceu no morro. Carros de combate Urutu (veículo blindado de cerca de 15 toneladas, armado com metralhadoras) estão estacionados na entrada do morro.
"O mais triste é que, há uma semana, todos nos aplaudiam no sambódromo [referindo-se ao desfile da Mangueira no Carnaval carioca]. Agora, temos que conviver com armas e toda a violência", disse Lessa, que é diretor da escola de samba.


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