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VIOLÊNCIA
Professores da Casa das Artes da Mangueira dizem que ritmo do morro foi drasticamente alterado com Exército
"A favela está vazia", afirma voluntário
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos principais projetos sociais da favela, a Casa das Artes da
Mangueira está "deserta" desde o
início da ocupação do morro pelo
Exército.
Ontem, o centro, que atende
cerca de 200 famílias do morro,
contou com a presença de apenas
uma aluna, que teve que voltar
para casa sem aula de dança.
Desde segunda, cerca de 500
militares do Exército ocupam a
favela em busca das armas que foram roubadas na sexta de um
quartel em São Cristóvão, bairro
vizinho à favela.
"Ninguém está saindo de casa
desde segunda. É impossível trabalhar num clima desse", disse
Sueli de Lima, coordenadora da
entidade, que atua há seis anos
nas áreas de educação e cultura.
Ontem, os soldados permaneceram no morro. Eles fizeram
barreiras próximas à entrada da
favela. Na noite anterior, traficantes iniciaram um tiroteio deixando o clima ainda mais tenso. Nas
escolas, o movimento foi menor
que o normal.
"A entrada do Exército é desrespeitosa. A favela é um espaço de
vida, onde as pessoas estudam,
trabalham. Se 1% da população
daqui está envolvida com crimes,
acho que toda a comunidade não
pode pagar por isso", disse a coordenadora.
"Não dá para entender como o
Exército não usa a inteligência, só
coloca formiguinhas [soldados]
para subir o morro. Quantas
crianças estão sem estudar? Pais
também não estão indo trabalhar
por causa dessa operação. Esse
prejuízo, com certeza, é bem
maior do que as dez armas perdidas", afirmou.
Do Carnaval à guerra
O fotógrafo Gilson Lessa, 44,
não trabalhou ontem na Casa das
Artes. Nenhum dos seus 20 alunos apareceu para a aula de fotografia. ""Essa imagem do caminhão apontado para a comunidade assusta muito. A favela está vazia. Não se vê quase ninguém nas
ruas", disse Lessa, que nasceu no
morro. Carros de combate Urutu
(veículo blindado de cerca de 15
toneladas, armado com metralhadoras) estão estacionados na entrada do morro.
"O mais triste é que, há uma semana, todos nos aplaudiam no
sambódromo [referindo-se ao
desfile da Mangueira no Carnaval
carioca]. Agora, temos que conviver com armas e toda a violência",
disse Lessa, que é diretor da escola
de samba.
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