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VIOLÊNCIA
Relatório aponta 17 violações aos direitos humanos e ataca investigações de fachada; governo brasileiro não comenta
EUA criticam polícias e a Justiça do Brasil
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
O Departamento de Estado dos
Estados Unidos identificou violações de direitos humanos no Brasil em 17 áreas e criticou as polícias estaduais -Civil e Militar-
e o sistema Judiciário em seu relatório anual sobre direitos humanos divulgado ontem.
A "persistente intimidação e os
assassinatos de ativistas pela reforma agrária" receberam uma
menção no documento, que
abrange o ano em que a missionária americana Dorothy Stang foi
morta no Pará, em fevereiro.
"O governo ou seus funcionários não cometem assassinatos
por motivação política, mas mortes ilegais por polícias estaduais
(militar e civil) são disseminadas", assinala o texto.
Ao analisar casos específicos
-a morte de cinco pessoas de 14
a 22 anos no morro do Samba, em
Diadema, em julho-, o relatório
resvala em outro problema crônico brasileiro: a impunidade. "Enquanto uma investigação da Corregedoria ainda estava em andamento, os cinco suspeitos permaneceram em serviço", aponta.
O documento identifica violações de direitos humanos em "assassinatos ilegais e mortes causadas pelo uso excessivo de força"
de policiais; "tortura policial e espancamento de suspeitos e presos"; falha de ação [resposta] em
numerosos casos de violações por
autoridades estaduais, que perpetua o clima de impunidade"; "tortura e espancamento freqüentes
de presos, incluindo centros de
detenção juvenis".
Sobre as forças de segurança, o
relatório menciona ainda as investigações internas que servem
apenas de fachada para a opinião
pública, excesso de casos na Justiça militar, que "raramente" os investiga profundamente.
O Judiciário brasileiro, também
criticado no relatório do ano passado, merece uma menção porque há "falha em assegurar o direito a um julgamento justo e rápido", na avaliação do relatório.
O Departamento de Estado produz todos os anos, desde 1977, um
relatório sobre a situação dos direitos humanos em diversos países do mundo. A fonte básica de
informação são relatos da imprensa coletados pelas embaixadas no estrangeiro. O documento
não avalia a conduta dos EUA.
Nos últimos meses, os próprios
Estados Unidos têm digerido
uma série de relatos de tortura
praticadas por militares ou agentes do governo. As denúncias começaram com as fotos de prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib,
relatos de maus tratos na prisão
de Guantánamo, em Cuba, e, no
final do ano passado, cresceram
com a divulgação de prisões secretas da CIA (Agência Central de
Inteligência) na Europa. Como
muitos casos ocorrem fora do território americano, os funcionários do governo não estão sujeitos
à legislação nacional.
Outro lado
O governo brasileiro não quis
comentar o relatório. Por meio de
nota, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República informou que "reconhece plenamente os instrumentos de monitoramento multilaterais dos sistemas de proteção
dos direitos humanos da ONU e
da OEA e que não comenta relatórios sobre a situação de direitos
humanos elaborados pelo governo de um determinado país".
"Coerente com esta orientação,
o governo brasileiro não se dispõe
a fazer relatórios e tampouco a comentar de maneira unilateral as
eventuais violações de direitos
humanos cometidas pelo governo
americano, como as denúncias de
violações nas prisões de Guantánamo e Abu Ghraib", diz a nota.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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