São Paulo, quarta-feira, 09 de março de 2011

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ANTONIO PRATA

Os peitos da Jane Russell


São como o gol perdido do Pelé: só alguns felizardos os viram desnudos e nenhuma câmera jamais os captou

CLIQUEI NO link do YouTube, no e-mail enviado por meu pai, sem saber do que se tratava. Que boa surpresa: assisti, finalmente, ao famoso gol do Pelé, o mais bonito de todos, segundo os que estavam no estádio, em 1959, naquele Santos x Juventus. O lance, que não havia sido filmado, foi ressuscitado da tumba da memória por uma animação no filme "Pelé Eterno", uns anos atrás.
O movimento dos jogadores é realista, a imagem, amarelada, imita um filme antigo e quase nos convencemos de que estamos vendo o Rei dar um, dois, três chapéus e mandando a bola pro fundo da rede.
Não sei se foi a década de 50, o milagre da recriação computadorizada ou as parábolas desenhadas pela bola, mas, assim que fechei o YouTube, surgiu a ideia fixa: os peitos da Jane Russell.
Os peitos da Jane Russell são como o gol perdido do Pelé: só alguns felizardos os viram desnudos e nenhuma câmera jamais os captou.
Que coisa: é possível assistir ao nascimento de estrelas pelo Hubble, fuxicar o interior de um neurônio com um microscópio, mas aqueles dois patrimônios da humanidade -ou, deveria dizer, matrimônios?-, que povoaram os sonhos de tantos adolescentes e homens feitos, que aplacaram a ansiedade de soldados em casamatas e representaram tão bem a pujança dos EUA no pós-guerra, permanecerão para sempre um mistério por trás de vestidos, dentro de sutiãs. A não ser que -por que não?!- os recriemos, desnudos, em computação gráfica.
Primeiro, seria necessário formar uma equipe multidisciplinar: médicos, artistas plásticos, físicos -um especialista em resistência de materiais, outro em mecânica dos fluídos. Eles veriam os filmes, a mediriam por todos os ângulos, fariam testes com silicone, bexigas d'água, sutiãs e tecidos da época.
Depois, poriam em fórmulas o delicado balé dos seios de Jane Russell, subindo e descendo, na bela luta que todo seio trava, entre o impulso do corpo e a censura da gravidade -e não é este desesperado tremelicar uma metonímia da própria vida, tão precariamente suspensa, entre o céu e a terra?
Pela análise de frames e fotos, pela cor da pele e dos lábios, ouvindo dermatologistas e, talvez, alguma testemunha ocular, nossos cientistas recriariam os mamilos, no tom e diâmetro exatos. Até que, depois de alguns anos, o mundo poderia finalmente assistir à "Russell Eterna: the vouyeur's cut".
Nasce aí um negócio lucrativo.
Depois de Russell, virão Sofia Loren, Claudia Cardinale e até, quem sabe, Betty Boop, Jessica Rabbit, a Tina, namorada do Rolo. Sei que sofrerei resistência de vários setores: detentores do copyrights, herdeiros, evangélicos, líricos obscurantistas, afirmando que o sagrado deve permanecer envolto em mistério e que o que a moça não desnudou, computadores jamais desnudarão.
Em nome de meu sonho, enfrentarei a todos, sem titubear -e só não digo que o farei "de peito aberto" porque meu projeto é sério e não o colocarei em risco por conta de um trocadilho infame.
NatGeo, Discovery Channel, MIT, Hugh Hefner, favor enviar e-mails ao endereço abaixo. Não quero dinheiro nem fama: só os peitos da Jane Russell -e sei que não estou sozinho nessa.

antonioprata.folha@uol.com.br

@antonioprata


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