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DESABAMENTO
Venda de apartamentos ao extinto Iapas desrespeitou Constituição; ação popular acusa superfaturamento
Naya vendeu prédios ao governo já deputado
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
O deputado Sérgio Naya (sem
partido-MG) desrespeitou a Constituição no dia 10 de julho de 87
por ter assinado contrato com o
governo federal para a venda de
236 apartamentos da construtora
Sersan em Brasília.
O artigo 34 da Constituição em
vigor na época proibia o parlamentar de ser dono ou diretor de
empresa que firmasse ou mantivesse contrato com o governo. A
proibição foi mantida no artigo 54
da Constituição de 88.
Naya vendeu os imóveis sem licitação para o extinto Iapas (Instituto de Administração Financeira
da Previdência e Assistência Social) e assinou o contrato como diretor-presidente da Sersan, construtora responsável pelo edifício
Palace 2, que desabou no Rio. Ele é
sócio-majoritário da empresa.
No dia em que assinou a escritura de compra e venda dos imóveis,
Naya estava exercendo o primeiro
de seus três mandatos eletivos.
Eleito suplente pelo PMDB em
86, ele teve a primeira experiência
na Câmara durante o período de
16 de março a 5 de novembro de 87
ocupando uma das vagas abertas
por deputados mineiros que se licenciaram da Casa.
Cassação
Para o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
Reginaldo Oscar de Castro, Naya
poderia ter sido cassado porque
cometeu a irregularidade no exercício do mandato. "Ele era suplente, mas estava no exercício do
mandato", disse Castro.
Para o deputado José Genoino
(PT-SP), Naya poderia ter respondido há 10 anos a processo de cassação por haver desrespeitado à
Constituição.
Naya deve ser cassado pela Câmara nesta semana. Ele é acusado
de haver cometido falta grave ao
decoro parlamentar, em outubro
de 97, quando disse em reunião
com vereadores de Três Pontas
(MG) que cometeu irregularidades, como falsificar assinatura.
"O caso Naya deve servir para
rever a imunidade parlamentar e
impedir que os parlamentares façam contratos com o governo por
meio de suas empresas ou de prepostos", disse Genoino.
Irregularidades
Ação popular movida em 88 pelo advogado Eri Varela contra a
venda dos imóveis da Sersan ao
Iapas afirma que o deputado estava impedido por força constitucional de firmar contrato com o
Iapas.
Pela venda dos imóveis, a Sersan
recebeu do governo o equivalente
na época a US$ 11 milhões, de
acordo com o valor do dólar oficial. O pagamento cobriu 95% do
valor dos imóveis.
O pagamento não foi integral,
conforme a escritura, porque os
imóveis construídos pela Sersan
tinham irregularidades nas instalações e não tinham armários.
A assinatura do deputado é uma
das irregularidades apontadas na
ação popular do advogado Varela.
Na época, foram comprados 328
apartamentos pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social.
Além da Sersan, os imóveis foram comprados também sem licitação das construtoras Encol,
Paulo Octávio e Emosa.
O advogado pede na ação a revogação do "negócio imobiliário"
sob a alegação de que os apartamentos foram avaliados com valores 40% acima do mercado.
A compra dos imóveis foi justificada pelo então ministro da Previdência Social, Raphael de Almeida
Magalhães, para servir a funcionários do Iapas transferidos do Rio.
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