São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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POLÍCIA
Merla, uma nova droga obtida a partir da cocaína, está sendo difundida principalmente entre a classe média
MA tem boom de consumo de nova droga

DÉCIO SÁ
da Agência Folha, em São Luís

A merla, uma nova droga obtida a partir dos resíduos do processo de produção da cocaína, está registrando um boom de consumo em São Luís (MA).
"É a coqueluche da cidade", diz o chefe substituto da Delegacia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal do Maranhão, Ribamar Araújo, 40.
Segundo a polícia, o consumo da merla na cidade em grande escala começou há cerca de três anos, mas está crescendo. Apenas em janeiro deste ano, a Polícia Civil apreendeu, na capital, cem "cabeças", como é chamado na gíria um pequeno saco plástico que serve como embalagem da merla.
Cada "cabeça" tem entre 1 g e 5 g. Dependendo do tamanho, o preço varia de R$ 10 a R$ 20. Em Brasília, onde a merla é mais difundida, ela pode ser comprada por R$ 1. Mas a polícia já apreendeu embalagens de 20 g, vendidas a R$ 50.
As autoridades ainda não descobriram qual é a composição exata da merla. Sabe-se apenas que tem resíduos de querosene e ácido sulfúrico. Também não se conhece ao certo a partir de que parte do refino da cocaína, antes de chegar à pasta básica, a merla é obtida.
"Aqui não existe um local onde não tenha venda e consumo de drogas, principalmente merla e maconha", afirma o delegado de Entorpecentes da Polícia Civil do Maranhão, Eduardo Jansenn de Melo, 36.
A merla é fumada e é, geralmente, misturada à maconha ou ao tabaco de cigarros. Também pode ser mascada e injetada na veia -o que pode levar à morte.
Seu consumo, antes restrito à camada mais pobre da população, está -a exemplo do que ocorreu com o crack- se difundindo principalmente entre membros da classe média.
Os efeitos são semelhantes aos do crack: dependência psíquica, alteração dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, lesões cerebrais e no fígado.
O nome merla vem de melado, porque a droga é encontrada no estado pastoso. Para conservá-la, os traficantes guardam a droga na geladeira.
Em seu estado puro, a merla tem um cheiro parecido com o da cocaína. Mas, para aumentar o rendimento da droga, os traficantes a misturam com talco, giz e cacos de louça moídos.
Dependendo dos produtos químicos usados em sua composição, a merla pode ser encontrada nas cores amarela, verde, cinza e roxa. A branca é a mais comum.
A rota da merla é praticamente a mesma da cocaína. A droga chega a São Luís pela fronteira do Brasil com a Colômbia e a Bolívia.
Brasília é a cidade onde a droga é mais difundida e serve como central de distribuição para o resto do país.



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