São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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RORAIMA
Agricultores integram comissão
Colono pede auxílio para enfrentar seca

ALTINO MACHADO
da Agência Folha, em Boa Vista (RR)

Os colonos do município de Mucajaí (a 50 km de Boa Vista) querem participar da gestão de R$ 15 milhões pleiteados em Brasília pelo governador de Roraima, Neudo Campos (PPB). Ele decretou calamidade pública no Estado por causa da estiagem prolongada e dos incêndios nas áreas de savanas e florestas da região.
Orientados pelo coordenador da CPT (Comissão Pastoral da Terra) em Roraima, Arthur Agostini, os colonos integram a comissão da qual participam representantes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).
A partir de hoje, a comissão vai sugerir várias providências ao governo estadual, como a construção de 300 poços artesianos para abastecer 3.500 famílias.
Nos últimos dois anos, os agricultores receberam financiamento do FNO-Especial (Fundo Constitucional do Norte) e do Procera (Programa de Crédito para Reforma Agrária), mas estão com a capacidade de pagamento comprometida porque o fogo atingiu cercas, gado e culturas perenes.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mucajaí, Laurenes Cruz do Nascimento, os colonos querem que o prazo para pagamento dos créditos seja prorrogado, sem juros, por mais dois ou quatro anos.
Durante a reunião de formação da comissão, os colonos admitiram que contribuíram para propagar os focos de incêndios. Colonos que tiveram propriedades destruídas pelo fogo se mostraram dispostos a mudar o hábito de preparar a terra com queimadas.
Essa mudança de hábito, entretanto, será um desafio para os colonos, que terão de romper com o método tradicional de preparo da terra. São poucos os que conseguem aliar atividades de subsistência com proteção ambiental.
"É um absurdo que derrubadas de florestas e queimadas sejam entendidas como benfeitorias por órgãos como Incra e Ibama", disse Agostini.
Anteontem, em Vila Apiaú, na região de Mucajaí, o fogo destruiu um caminhão que transportava colonos. Ninguém ficou ferido, mas os milhares de focos de incêndios permanecem ativos, devorando enormes áreas de florestas.
A seca em Roraima ocorre há quatro meses. Os incêndios já destruíram 60% das áreas de savanas e avançam contra a floresta, ameaçando área ianomâmi. Já morreram 12 mil cabeças de gado.
O pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Phillip Martin Fearnside, que estuda há 20 anos os impactos provocados pela troca do uso da terra na Amazônia, disse que o desmatamento contínuo na Amazônia brasileira pode contribuir, a longo prazo, para o aquecimento do planeta (efeito estufa).



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