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SEGURANÇA
No Rio, uma grávida e um jovem trabalhador foram mortos por balas de grupos que disputam venda de drogas
Guerra do tráfico faz mais duas vítimas
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
A madrugada de ontem foi violenta em favelas da zona norte do
Rio, que têm sido palco, desde o
início de março, de uma guerra
entre quadrilhas rivais do tráfico
de drogas. O caso mais grave
ocorreu em Engenho Novo, onde
um confronto entre traficantes
deixou duas pessoas mortas, entre elas uma mulher grávida.
Apesar de o tiroteio nesse bairro
ter durado mais de três horas, a
polícia só chegou ao local quatro
horas depois de ele ter terminado.
Todo o comando da segurança
pública do Estado está em transição desde a renúncia do governador Anthony Garotinho (PSB),
substituído na sexta-feira por Benedita da Silva (PT).
Segundo testemunhas, cerca de
30 traficantes do morro dos Macacos, ligados à facção criminosa
Terceiro Comando, invadiram os
morros do Encontro e da Matinha, onde o comércio de drogas é
dominado pelo Comando Vermelho. Eles estavam fortemente
armados e chegaram a lançar granadas nas ruas da favela.
Pela manhã, as marcas do tiroteio podiam ser vistas em pelo
menos oito carros e 17 casas.
A invasão começou por volta de
1h30 e durou quatro horas. Moradores contaram que os traficantes
invadiram casas, lojas e bares.
"Foi o terror. Eles entraram nas
casas e agrediram as pessoas. E
ainda prometeram voltar hoje
[ontem"", contou uma testemunha que não quis se identificar.
Vanessa Ananias de Oliveira,
22, grávida de três meses, foi morta com dois tiros, próximo à entrada de sua casa. A família, revoltada, contou que ela tinha uma filha de cinco anos e voltava de um
baile de pagode.
A outra vítima foi o pedreiro
David Machado dos Reis, 19, atingido por dois tiros quando chegava à favela. Testemunhas contaram que ele tentou fugir, se refugiando no pátio de um prédio, onde acabou sendo baleado. Reis
morava em Petrópolis (65 km do
Rio) e ia visitar a namorada, que
mora no morro da Matinha.
A polícia só chegou ao local por
volta das 9h30. Apesar da violência e do aviso dos moradores de
que os traficantes voltariam na
noite de ontem para consolidar a
invasão, as favelas não foram ocupadas pelos policiais.
Integrantes do 3º Batalhão vistoriaram os morros, esperaram a
retirada dos corpos -o que ocorreu no meio da tarde-, e disseram que partiriam à noite.
No morro do Salgueiro, na Tijuca, uma criança de dez anos e um
soldado da Polícia Militar ficaram
feridos durante uma troca de tiros
entre policiais e traficantes.
A versão policial diz que PMs
vistoriavam a favela quando foram recebidos a tiros por traficantes. O soldado Eronildes da Silva
Filho foi baleado na virilha. A menina Adriana da Silva Campos foi
atingida na coxa. Após terem passado por cirurgia, o estado dos
dois é estável, segundo médicos.
Um tiro também foi disparado
contra o carro do comandante da
operação. No veículo, só estava o
motorista, que não se feriu. A polícia apreendeu no local drogas,
munição e uma granada.
Ainda na madrugada, houve
outro choque entre traficantes,
dessa vez na favela do Boogie
Woogie, na Ilha do Governador.
No final da tarde, a aposentada
Edna dos Reis Silva, 58, foi vítima
de bala perdida em tiroteio entre
grupos que disputavam o controle da venda de drogas na favela
Camarista Méier (zona norte).
Até o fechamento desta edição
permanecia hospitalizada.
Colaborou Mario Hugo Monken
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