São Paulo, terça-feira, 09 de abril de 2002

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SEGURANÇA

No Rio, uma grávida e um jovem trabalhador foram mortos por balas de grupos que disputam venda de drogas

Guerra do tráfico faz mais duas vítimas

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

A madrugada de ontem foi violenta em favelas da zona norte do Rio, que têm sido palco, desde o início de março, de uma guerra entre quadrilhas rivais do tráfico de drogas. O caso mais grave ocorreu em Engenho Novo, onde um confronto entre traficantes deixou duas pessoas mortas, entre elas uma mulher grávida.
Apesar de o tiroteio nesse bairro ter durado mais de três horas, a polícia só chegou ao local quatro horas depois de ele ter terminado. Todo o comando da segurança pública do Estado está em transição desde a renúncia do governador Anthony Garotinho (PSB), substituído na sexta-feira por Benedita da Silva (PT).
Segundo testemunhas, cerca de 30 traficantes do morro dos Macacos, ligados à facção criminosa Terceiro Comando, invadiram os morros do Encontro e da Matinha, onde o comércio de drogas é dominado pelo Comando Vermelho. Eles estavam fortemente armados e chegaram a lançar granadas nas ruas da favela.
Pela manhã, as marcas do tiroteio podiam ser vistas em pelo menos oito carros e 17 casas.
A invasão começou por volta de 1h30 e durou quatro horas. Moradores contaram que os traficantes invadiram casas, lojas e bares.
"Foi o terror. Eles entraram nas casas e agrediram as pessoas. E ainda prometeram voltar hoje [ontem"", contou uma testemunha que não quis se identificar.
Vanessa Ananias de Oliveira, 22, grávida de três meses, foi morta com dois tiros, próximo à entrada de sua casa. A família, revoltada, contou que ela tinha uma filha de cinco anos e voltava de um baile de pagode.
A outra vítima foi o pedreiro David Machado dos Reis, 19, atingido por dois tiros quando chegava à favela. Testemunhas contaram que ele tentou fugir, se refugiando no pátio de um prédio, onde acabou sendo baleado. Reis morava em Petrópolis (65 km do Rio) e ia visitar a namorada, que mora no morro da Matinha.
A polícia só chegou ao local por volta das 9h30. Apesar da violência e do aviso dos moradores de que os traficantes voltariam na noite de ontem para consolidar a invasão, as favelas não foram ocupadas pelos policiais.
Integrantes do 3º Batalhão vistoriaram os morros, esperaram a retirada dos corpos -o que ocorreu no meio da tarde-, e disseram que partiriam à noite.
No morro do Salgueiro, na Tijuca, uma criança de dez anos e um soldado da Polícia Militar ficaram feridos durante uma troca de tiros entre policiais e traficantes.
A versão policial diz que PMs vistoriavam a favela quando foram recebidos a tiros por traficantes. O soldado Eronildes da Silva Filho foi baleado na virilha. A menina Adriana da Silva Campos foi atingida na coxa. Após terem passado por cirurgia, o estado dos dois é estável, segundo médicos.
Um tiro também foi disparado contra o carro do comandante da operação. No veículo, só estava o motorista, que não se feriu. A polícia apreendeu no local drogas, munição e uma granada.
Ainda na madrugada, houve outro choque entre traficantes, dessa vez na favela do Boogie Woogie, na Ilha do Governador.
No final da tarde, a aposentada Edna dos Reis Silva, 58, foi vítima de bala perdida em tiroteio entre grupos que disputavam o controle da venda de drogas na favela Camarista Méier (zona norte). Até o fechamento desta edição permanecia hospitalizada.


Colaborou Mario Hugo Monken


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