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MASSACRE NA BAIXADA
5 policiais mexeram em projétil e cadáver, diz morador
Cena do crime foi alterada por PMs, diz testemunha
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Policial guia carro com o soldado Carlos Jorge de Carvalho após o depoimento do acusado de participar dos assassinatos na Baixada |
MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
No mais detalhado relato sobre
a chacina de 30 pessoas na Baixada Fluminense, no dia 31, uma
testemunha ouvida pela Polícia
Federal diz ter visto, minutos
após as mortes num lava-a-jato
em Queimados, cinco policiais
militares tirando projéteis do
chão e mexendo nos cadáveres.
O depoimento pode complicar
a situação do cabo José Augusto
Moreira Felipe e dos soldados Júlio César do Amaral, Ivonei de
Souza e Maurício Jorge da Matta
Montezano, 4 dos 8 presos por
suspeita de participação no massacre e que haviam apresentado
álibis para o horário dos crimes.
O quinto policial que a testemunha diz ter visto no lava-a-jato
não foi reconhecido. O nome da
testemunha está sob sigilo. No local morreram quatro pessoas.
Ontem, a polícia obteve nova
prova técnica que indica que o
Gol prata -cedido ao soldado
Carlos Jorge de Carvalho, 1 dos 8
presos e 1 dos 2 apontados como
atirador (ontem, uma testemunha reconheceu o cabo Gilmar da
Silva Simão)- foi usado na ação.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, uma cápsula recolhida no lava-a-jato em Queimados saiu da mesma pistola das três
cápsulas achadas no veículo.
Anteontem, já havia sido comprovado que outras três cápsulas
achadas em Nova Iguaçu eram
idênticas às do Gol prata. Para os
investigadores, isso evidencia que
o mesmo carro foi usado em ao
menos dois locais diferentes (e
nas duas cidades) da matança.
Tiros para o alto
Segundo a testemunha, os tiros
foram dados por quatro pessoas
mascaradas. No instante do crime, a testemunha diz que passaram dois carros da PM. Os policiais deram dois tiros para o alto e
foram embora sem socorrer as vítimas, afirma o depoimento.
Logo em seguida, diz o depoente, chegou ao local um Santana
prata que seria do serviço reservado. Do carro, desceram os soldados Montezano e Souza, que, afirma a testemunha, retiraram projéteis e mexeram nos cadáveres.
O relato diverge do que dizem
os PMs. Montezano disse na Assembléia Legislativa que estava no
gabinete do tenente-coronel Marco Aurélio Hippertt, comandante
do batalhão, quando chegou a notícia de que pessoas estavam sendo mortas em Queimados. Souza
disse que estava com a família.
Pouco após a saída do Santana,
afirma a testemunha, apareceu
um Vectra branco, onde estavam
o cabo Felipe, o soldado Amaral e
um PM ainda não identificado.
A testemunha diz que os três,
em cerca de dez minutos, mexeram na cena do crime; Felipe falava em um radiotransmissor. Em
depoimento, Felipe e Amaral disseram que estavam com parentes.
Em entrevista à Folha ontem, o
comandante do batalhão negou
que Montezano estivesse em seu
gabinete. "Sou o comandante da
unidade. Ele não teria motivos
para estar em meu gabinete", afirmou Hippertt. "Vejo soldados a
toda hora. Não fico reparando na
hora em que vejo cada um deles
nem anoto os nomes e registros.
Não posso dizer que ele estava
aqui na hora daquela bestialidade. Ele era P2 [trabalha à paisana,
uma espécie de serviço secreto do
batalhão]. Tinha liberdade para se
deslocar aos locais de crimes."
"Além do mais, ele poderia estar
aqui, ter dado uma saída, matado
alguém e voltado. Não posso confirmar esse álibi", afirmou.
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