São Paulo, quinta, 9 de abril de 1998

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MEIO AMBIENTE
Fogo sob a floresta multiplicou o volume de vegetais de alta combustão e os riscos em nova estiagem
Ibama teme nova catástrofe em Roraima

ALTINO MACHADO
da Agência Folha, em Boa Vista

O presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), Eduardo Martins, disse ontem em Boa Vista que o fogo que atingiu 14,7% (33 mil km2) da área total de Roraima ameaça provocar uma catástrofe ecológica durante a próxima estiagem na região.
Para Martins, o fogo que se alastrou por baixo da floresta aumentou em quatro ou cinco vezes o volume da biomassa (vegetais que servem como fonte de energia).
"As folhas foram desidratadas pelo fogo e estarão prontas na próxima estiagem como elemento de alta combustão. Ou seja, os riscos de novas queimadas acontecerem são grandes, podendo atingir proporções maiores."

Sobrevôo

O presidente do Ibama e o ministro Gustavo Krause (Meio Ambiente) sobrevoaram ontem as regiões de Roraima mais atingidas pelo fogo junto com o governador Neudo Campos (PPB). Krause foi recebido com honras militares na base aérea de Boa Vista.
O helicóptero do Exército que transportou os três sobrevoou a uma altitude média de mil metros. Nessa altura é quase impossível distinguir entre árvores queimadas ou floridas, mas, ao desembarcar, Krause deixou transparecer um ar de perplexidade diante do cenário. "A imagem é dura, comovente, dramática e angustiante, mas é também uma imagem que ensina", disse Krause.
Krause fez questão de sobrevoar a estação ecológica da ilha de Maracá (a 130 km ao norte de Boa Vista), onde, há cinco dias, uma comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) constatou mais de 70 focos de incêndio. As chuvas debelaram o fogo.
A estiagem em Roraima durou sete meses, mas os focos de incêndio se intensificaram a partir de janeiro. Somente a partir do dia 2 de fevereiro o Ibama deixou de expedir autorizações para queimadas.
Mas o órgão não deixou de conceder autorizações para desmatamentos. De janeiro a março foram 201, que correspondem a 628 hectares. Debelado o fogo, quem foi autorizado a desmatar agora quer realizar as queimadas.
O superintendente do Ibama em Roraima, Ademir Junes dos Santos, 46, já sugeriu ao comando da operação de combate ao fogo a realização de "queimadas comunitárias" no Estado antes que o período das chuvas prevaleça.
As queimadas comunitárias têm sido defendidas por Eduardo Martins. A proposta consiste em criar condições para que sejam realizadas de maneira coletiva.
Krause e Martins não explicaram se pretendem insistir para assegurar as queimadas em áreas de proprietários que obtiveram autorização para desmatar. "O que temos que fazer é evoluir para um modelo agrícola onde o fogo não seja o trator e a cinza o adubo", disse Martins.



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