São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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Punido delegado que associou chacina a "briga de vagabundo"

Antonio de Souza foi afastado do 46ºDP e passará a exercer funções burocráticas

Ele fez a associação ao ser questionado sobre o crime em que 7 jovens morreram numa praça de SP, na maior chacina do ano no Estado

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Antonio de Souza perdeu ontem o cargo de chefe do 46º Distrito Policial, em Perus (zona norte de São Paulo), um dia após ter declarado à Folha que a maior chacina deste ano no Estado foi uma "briga de vagabundo". Sete jovens foram assassinados -dois deles mulheres- no último domingo à noite em uma praça no Jaraguá (zona norte da capital), após quatro mascarados em duas motos dispararem mais de 50 tiros. Duas vítimas estão internadas.
A autoria do crime ainda é desconhecida pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que preside o inquérito. Um suspeito foi identificado, mas ninguém foi preso. Testemunhas suspeitam do envolvimento de policiais militares. Já a Polícia Civil acredita se tratar de acerto de contas do tráfico de drogas.
Segundo afirmou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, o ex-titular do 46º DP foi transferido de função por conta do que falou à reportagem. Ele permanecerá como delegado, mas perdeu o cargo de chefia e fará serviços burocráticos na 6ª delegacia seccional em Santo Amaro (zona sul) -o salário, porém, permanece o mesmo. O 46º DP, onde Souza trabalhou por 14 meses, registrou a ocorrência do crime, que depois passou ao DHPP.
O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, afirmou ontem à rádio Jovem Pan que as "declarações [de Souza] não são compatíveis com a posição de um delegado de polícia em serviço". Na reportagem publicada ontem pela Folha, Souza disse que "neste país é pobre roubando pobre. Isso é briga de vagabundo", ao responder o que teria acontecido na praça. Questionado sobre o fato de nenhum dos mortos ter passagens pela polícia, Souza respondeu: "Não tem passagem, e daí? Você tem passagem? Você pode matar alguém".
A Folha ligou para o celular de Souza, que ouviu a pergunta sobre sua transferência, mas ficou em silêncio. A reportagem voltou a ligar algumas vezes, mas não foi atendida.


Colaborou DANIEL BERGAMASCO, da Reportagem Local


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