São Paulo, sábado, 9 de maio de 1998

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POLÍCIA
Um dos presos é acusado de ter participado da chacina em Vigário Geral; os depoimentos não convenceram
Suspeita de sequestro envolve policial

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

Cinco homens armados -dentre eles um ex-policial que é réu no processo da chacina de Vigário Geral- foram presos ontem no Jardim América (zona norte do Rio). A polícia suspeita que o grupo iria sequestrar um empresário.
O ex-PM Gil Azambuja dos Santos, o soldado PM licenciado Estéfano José Avelino de Oliveira, Carlos Azeredo Teixeira e os irmãos Ronaldo e Reginaldo Souza Carvalho estavam em dois veículos carregando um fuzil AR-15, três pistolas e um revólver 38.
O grupo estava estacionado em frente ao prédio da Indústria Mecânica de Ventiladores Trocalor, na rua São Ciro, em um furgão e um carro de passeio. Os cinco foram cercados e presos por seis PMs às 8h10.
O sargento do 9º BPM (Batalhão de Polícia Militar) Carlos Roberto da Silva, que participou do cerco, acha que os cinco se preparavam para sequestrar o dono da Trocalor, Carlos Alberto das Chagas.
Segundo Silva, no mês passado, o dono da Trocalor já havia comunicado ao 9º BPM que estava apreensivo com a presença de um carro suspeito rondando sua empresa. Procurado pela Folha, Chagas não quis falar.
"Acredito que estavam ali para sequestrar o dono da firma. Dez minutos depois que foram presos, ele chegou carregando sua maleta", disse o sargento.
Na 39ª DP (Delegacia de Polícia, na Pavuna), os cinco "contaram histórias desencontradas", segundo um delegado.
Um deles teria dito que o grupo estava à espera de um traficante de uma favela próxima para fazer uma apreensão de drogas. "Não foi convincente o relato deles", afirmou o sargento Silva.
Além do armamento, os PMs apreenderam com o grupo quatro telefones celulares, um colete e um giroscópio da Polícia Civil. Segundo Silva, os PMs faziam um patrulhamento regular quando observaram os dois veículos suspeitos.
"Eram dois carros cheios de homens armados", afirmou Silva. Ele disse ter reconhecido logo, dentro de um dos carros, o ex-PM Gil Azambuja dos Santos, suspeito de ter participado da chacina de Vigário Geral, em 1993.
Santos responde ao processo em liberdade. Em abril, começou a ser julgado com mais 9 dos 50 acusados pela chacina de 21 moradores da favela de Vigário Geral. Mas o julgamento acabou anulado e transferido para outra data.
Apesar de não ter sido ainda julgado, Santos foi expulso da PM por conta do envolvimento de seu nome com a chacina.
Segundo testemunhas da chacina, o crime teria sido uma vingança. Na véspera, quatro PMs do 9º BPM foram mortos em uma praça perto da favela por supostos traficantes de drogas de Vigário Geral.



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