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Desempenho de negros em exame é pior
do Conselho Editorial
Os coordenadores do exame
quase optaram por esconder um
dos resultados: o desempenho escolar dos negros.
O Saresp indicou que os negros
se saíram pior do que os brancos,
trazendo o temor, entre os coordenadores, de que esse dado fosse
interpretado como sinal de inferioridade racial.
De acordo com a estatística, os
negros têm uma habilidade média
de 45% em língua portuguesa; os
brancos, 51%. "Está aí uma das
heranças vivas da escravidão",
afirma Rose Neubauer.
Há vários fatores em jogo. Primeiro, os negros vêm, em sua
maioria, das camadas mais pobres
da população.
Há evidências de que o nível de
renda dos pais está associado ao
desempenho escolar. Até porque
também se associam a escolaridade da mãe e o desempenho escolar
do filho; quanto maior o estudo da
mãe, melhor vai o filho.
É um círculo vicioso. Quem tem
mais dinheiro pode comprar mais
livros. O Saresp mostra que há
uma relação entre o número de livros em casa e o desempenho.
Mais complexo, porém, é o fato
de que os negros podem ter introjetado o preconceito dissimulado
e dominante de que não teriam
tanta capacidade intelectual como
os brancos. Esse sentimento afetaria a auto-estima, fator fundamental ao aprendizado.
Há a suspeita de que esse preconceito conduziria, consciente
ou inconsciente, professores a não
apostar tanto no aprendizado dos
alunos negros. Tão grave como o
fator cor está a questão da idade.
Os alunos que, por repetir o ano,
são os mais velhos da classe, exibem desempenho pior.
Está provado que a repetência
não tem valor pedagógico, apenas
punitivo. O aproveitamento escolar dos repetentes é expressivamente inferior em matemática e
língua portuguesa.
A partir deste ano, não haverá
mais repetência, o que vai exigir
programas de recuperação.
O Saresp detectou que ficar trocando o aluno de classe durante o
aluno letivo provoca prejuízos, já
que provoca o sentimento de não
pertencer a um grupo Ämais uma
vez, afeta a auto-estima.
Não se registraram defasagens
graves no que diz respeito a sexo.
As alunas da 4ª série conseguem ir
melhor em língua portuguesa do
que os meninos; 51,4% contra
48,9%. Mas os meninos se saem ligeiramente melhor em matemática: 50,5% contra 49,7%.
O fato evidente é que o desempenho escolar é reflexo da dívida social Älogo, a escola deve tentar
compensar essa dívida, substituindo, em parte, o papel da família. Filhos de famílias educadas,
capazes de propiciar visitas a museus, teatro, leituras, jogos educativos, tendem a ir melhor, independe da escola.
(GD)
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