São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2001

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Experiência inspira artesã de bonecas negras

DA SUCURSAL DO RIO

A artesã negra Andrea Ramos passou a infância brincando com bonecas brancas. Aos 18 anos, ganhou uma boneca negra e descobriu uma forma de ganhar a vida.
"Resolvi fazer bonecas negras, para que as crianças da minha raça não sejam mais obrigadas a brincar sempre com bonecas brancas", afirma Andrea, que há dois anos fabrica e vende suas bonecas no centro da cidade de São Paulo.
Andrea, a mãe e as primas têm uma fábrica artesanal e produzem bonecas de vários modelos e materiais. Vendem de 100 a 150 unidades por mês.
Assim como Andrea, Dilma Pereira também vende bonecas negras. Ela conta que estava fazendo curso para o magistério quando estranhou a ausência de materiais didáticos para tratar da questão racial. Há dez anos, Dilma começou a fazer bonecas negras para educar os alunos.
Até hoje, quando há festas infantis na escola de seu filho -na qual a maioria de alunos é branca, segundo ela- Dilma distribui bonecas negras às crianças.
"Tenho a esperança de conquistar as crianças para a luta contra o racismo", afirmou Dilma.
A advogada Maria do Carmo Valério resolveu investir em outra área. Montou uma indústria de maquiagem cujo carro-chefe são os cremes e batons para mulheres negras. Os batons homenageiam negras famosas, como a atriz Zezé Mota e a vice-governadora do Rio, Benedita da Silva.
A advogada diz que resolveu criar a linha de produtos para negras depois que, ao dar uma entrevista na TV, teve de ser maquiada com uma base branca.
"O maquiador me disse que não havia produtos para a minha pele. Fiquei horrorosa, parecia que estava usando uma máscara", lembra a advogada.
Na entrada da conferência, vários quiosques vendiam produtos específicos para negros. Um dos mais procurados era o que fazia o teste para a identificação da anemia falciforme (forma da doença que atinge preferencialmente negros e seus descendentes).
Uma equipe da Secretaria de Saúde do Estado colheu sangue de mais de 400 pessoas. Os resultados sairão em cerca de 20 dias.
O presidente da Associação dos Falcêmicos do Rio de Janeiro, Gilberto dos Santos, disse que uma das dificuldades no combate à doença é o desconhecimento da população.
"O Brasil tem hoje 42 mil portadores da anemia falciforme, mas muitas pessoas têm o traço da doença, ou seja, não são doentes, mas podem transmitir o mal aos filhos", afirmou.


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